Tudo na vida é feito de ciclos. Digo mais: tudo na vida se gere por ciclos. Têm princípio, fim e têm pontos altos.
É claro que não podemos quantificar o tempo que levam os ciclos a completar-se. Se assim fosse, seria certamente mais fácil. Mas não teria, digo eu, tanta piada. Parte de estar vivo, de descobrir-se e de aprender constantemente é precisamente navegar pelos ciclos. Geri-los e deixarmo-nos gerir por eles. Aceitá-los como inevitáveis mas não pensar demasiado nisso.
Os ciclos têm sempre alturas boas e alturas más. Mas acabam por morrer na praia e passam a ser lembranças ténues de experiência. Tentar mexer com eles ou acabar com eles pode sair-nos caro. Porque não é natural. E aí as lembranças podem tornar-se constantes e dolorosas.
Não posso (nem quero) admitir que tenhamos de andar à deriva, à espera que os ciclos se completem. Temos a tendência de dar uma ajudinha. De fazer (ou forçar) o que julgamos ser melhor para nós ou para os outros. Acho que isso não é mau: é humano. Mas aqui, a capacidade de sofrimento e de ter esperança deve falar mais alto.
Por outro lado, acho que só nos apercebemos da noção de ciclo à medida que vamos envelhecendo. Porque aí, a vida já nos mostrou isso mesmo. Já tivemos algum tempo para olhar para trás e ver alguma tendência de repetição. Não necessariamente das mesmas coisas. Mas da existência constante de começos, meios e fins. Em última análise, a própria Vida é um ciclo gigante. Povoada de ciclos mais pequeninos. :)
As carreiras profissionais estão repletas de ciclos. Uns bons, outros maus. E outros que, pura e simplesmente, têm de acabar para dar lugar a coisas novas. A outros ciclos. À possibilidade de pôr em prática o que aprendemos para que, desta vez, tenha um resultado diferente. Para que desta vez o ponto mais alto do ciclo (aquele em que nos sentimos bem e na plenitude nas nossas capacidades), possa durar mais tempo. Pode demorar mais a entrar naquela curva decadente que caracteriza o fim dos ciclos.
Nas relações humanas acontece o mesmo. E aí não há volta a dar. Costumo dizer que parte de ser feliz é tratar os ciclos com respeito, mas sem medo. Geri-los e interferir com eles de forma dócil. Fazer o que nos manda o coração. Porque outra noção que é preciso ter é a de que quem faz os ciclos começar somos nós. Para o bem e para o mal. Chama-se a isto "livre-arbítrio".
A dicotomia entre deixar os ciclos acontecerem e poder interferir com eles, cinge-se uma vez mais ao equilíbrio. De sentimentos, de pensamentos e da capacidade de ponderação das atitudes.
Mas também não se preocupem demasiado: se a coisa correr mal, encostem-se e deixem fluir. O movimento cíclico encarregar-se-á, de uma forma ou de outra, de trazer as coisas de volta a uma normalidade mais experiente. Até começar outro.
E mais: sabem qual é a grande vantagem dos ciclos? É que as coisas e as pessoas que interessam não vão a lado nenhum. Esperam. E, ao contrário dos ciclos, são presenças constantes.
Beijos & Abraços,
MP
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