terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Dos Recomeços

Os recomeços são tramados. Quer dizer: às vezes podem apresentar uma perspectiva de um futuro incerto mas apetecível. Um leque de oportunidades de construção de coisas boas. Uma espécie de livro no qual podemos escrever à vontade, sem ter que ter em conta capítulos anteriores.

Mas o tempo inerente a qualquer recomeço tem fases. Não é possível apressá-lo. Não é possível, por mais que se queira, andar com os ponteiros do relógio para a frente ou acordar de repente uns meses mais tarde. A vida, apesar de ser uma coisa boa e apetecível (continuo sempre a dizer isto), não nos deixa ir com muita sede ao pote, sem que se tropece no caminho, ou o pote se parta, ou, pura e simplesmente, não tenha água dentro.

A existência de memória(s) no nosso cérebro não nos deixa apagar o que está para trás. Não conseguimos apagar memórias, hábitos nem maneiras de ser. Sobrevivemos a isso tudo. Mas, acima de tudo, sobrevivemos COM isso tudo.

A procura de conforto e de coisas sólidas no início de um recomeço normalmente dá asneira. Ou por culpa nossa, ou por culpa dos outros. Mas, invariavelmente, dá asneira. É próprio dos seres humanos procurarem saídas fáceis, calorosas e doces. Era lindo que houvesse um botão que fizesse "restart". E que, de um momento para o outro, tudo ficasse bem e fresquinho.

Então como é que se fazem recomeços? Não há fórmula. Não há resposta fácil nem transversal. Mas a ideia base deve ser sempre: tudo se faz. O truque é disciplinar-se e confiar em nós e no tempo. Saber o que se quer é, digo eu, fácil. O mais difícil é saber, assumir e viver com o que não se quer. Impor a nós próprios limites e regras do que não fazer. Criar mecanismos para não ceder. E... ir vivendo.

Deve ter-se, acima de rudo, cuidado. Cuidado consigo e muito cuidado com os outros. Para não causar danos a si próprio nem às outras pessoas. E entender que recomeçar implica ter terminado o que veio imediatamente antes. De forma limpa e inequívoca. Para os outros e para nós. Temham em atenção que "terminar" não é apenas colocar um ponto final. É, acima de tudo, resolver. Resolver bem e de forma definitiva.

No caso das relações entre pessoas deve aprender-se (primeiro) a estar só. Depois é preciso gostar de estar só. Ou que a solidão nos seja indiferente. Viver para nós e por nós. Só aí, quando tudo nos parece normal e (de alguma forma) indiferente, é que podemos começar a considerar novas hipóteses. Por mais tentações fáceis e confortáveis que vos apareçam, acreditem que este é o melhor caminho. Para o bem ou para o mal.

Recomeçar de forma digna e séria não é para todos. É para pessoas sérias e bem-formadas.

Beijos & Abraços,

MP

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Das Cartas de Amor II

Ora aqui vai mais um texto que podia ser uma carta de amor. Mas não é. 

Continuo a achar que não tenho muito jeito para a coisa. Mas um dia pode ser que tenha alguma utilidade. Nem que seja para colar na porta do frigorífico. :-)

"Meu Amor,

Sei que dificilmente seremos um do outro. A Vida trouxe-nos coisas boas e coisas más. E à primeira vista é mais o que nos separa do que o que nos une. As nossas pancadas e limitações são próprias de quem já sentiu na pele os espinhos do mar de rosas que é a Vida.

Os avanços e recuos dos quais vamos inevitavelmente sofrer, fazem parte de pessoas como nós. Magoam e ferem como espinhos aguçados. As tentativas constantes de separação (por sentirmos que é o melhor a fazer) trazem-nos uma tristeza latente e um medo de novas mágoas. Há coisas que, depois de entranhadas, são difíceis de sair. Às vezes parece-me impossível que saiam mesmo.

Os momentos maus são de angústia e de um sofrimento calado, próprio de quem não se quer expor, de quem não se quer por a jeito para desilusões. De quem não quer dar o braço a torcer. De quem procura no outro provas constantes de Amor, de Carinho duradouro. De quem procura o aconchego de um coração que sente que lhe pertence. Era tão bom que nos pudéssemos mudar para o coração um do outro. Que pudéssemos deitar a chave fora, sem medo de sermos despejados. De ficarmos na rua, sem calor, sem afectos... sem nada. Esta era uma aventura que vivia contigo se sentisse que somos constantes, que somos unidos contra todos. Que somos um.

E os momentos bons? Ai os momentos bons... Esses são doces, quentes e confortáveis. O teu beijo, o teu sorriso, as tuas palavras carinhosas aquecem o coração de quem as ouve. O teu toque e o teu cheiro são como uma brisa suave constante que não é quente nem é fria. Mas que alimenta e areja a vida, o coração e a alma. Gostava que fossem todos assim. Mas depois há o Mundo e as vivências. E aí tudo cai. E temos mesmo de entrar em modo de sobrevivência e de auto-preservação. Não nos censuro por isso. Afinal somos pessoas. Somos humanos. E estamos longe de ser perfeitos.

As nossas imperfeições são como mossas a precisar de restauro. De um restauro que só muito Amor pode fazer. Nào basta lambermos as nossas feridas. Temos de poder e querer lamber a feridas um do outro. E cuidá-las e tratá-las com carinho.

Sei que é difícil. Ninguém nunca nos disse que ia ser fácil. Se que dificilmente teremos um final feliz. Mas, até chegar esse final, vou amar-te. De perto, de longe, em silêncio ou abertamente. E se não formos um para o outro, que sejamos para outro alguém. E que esse alguém seja menos difícil. Que essa história se conte de forma mais leve e em menos actos.

Até lá, o meu coração está perto do teu.

Porque te amo."

Beijos & Abraços,

MP

domingo, 19 de janeiro de 2014

Da Confiança

Este é um assunto sobre o qual me custa um bocado escrever. Mas, nem que seja por uma questão de mera catarse, aqui fica.

Devo dizer que só confio a 100% numa pessoa. Não vou cometer a deselegância de vos dizer quem é. Com isto não quero dizer que não confio em mais pessoas. É claro que confio. Mas será sempre numa percentagem inferior. Que pode ir dos 0 aos 90%. E tudo depende de há quanto tempo a conheço e do historial que temos.

Ganhar a minha confiança é extremamente difícil. E aqui não falo de coisas corriqueiras. Para estas coisas até sou demasiado confiante e crente nas pessoas que me rodeiam. Mas no que diz respeito a assuntos mais profundos e importantes... aí é que são elas. Não sei bem porquê. Há quem diga que seja insegurança. Eu acho que é resultado de vivências menos boas e, em alguns casos, mais dolorosas.

A verdade é que a ausência de confiança absoluta em alguém nos traz uma espécie de almofada onde podemos cair quando, de uma forma ou de outra, nos traem. Porque, de qualquer forma, é como se já estivéssemos à espera. :) Poucas coisas me abalam tanto como quando descubro que me trairam a confiança. E a partir daí nada é igual. Pode até ser parecido. Mas igual não é. Porque eu perdoo tudo. Mas não me esqueço de rigorosamente nada.

A construção da confiança entre duas pessoas deve, para mim, basear-se em duas coisas: palavras sentidas e fequenetes e actos que nos façam acreditar que podemos pôr a nossa Vida nas mãos daquela pessoa. Que, aconteça o que acontecer, ela não nos deixa cair. Penso que não há sensação tão confortável e calorosa como essa.

E penso que num período de construção de confiança devemos ter cuidado com as promessas que fazemos. Com as planos que partilhamos em momentos de euforia e de felicidade extrema. É que a euforia e a felicidade extremas são normalmente fugazes. E, depois, quando passam, deixam em quem as fez uma sensação desconfortável de "agora tenho de viver com as promessas que fiz". E deixam em quem as ouviu uma sensação calorosa e expectante que, depois, pode eventualmente trazer desilusões. E com desilusões não se constrói confiança. Para mim funciona exactamente ao contrário.

Acho que não devemos querer confiar em alguém. Devemos, isso sim, deixar que a confiança se construa baseada em vivências em comum. E em provas, ainda que inconscientes, do merecimento dessa mesma confiança. Aí até colocamos a nossa vida, o nosso coração e a nossa reputação nas mãos da outra pessoa. Para o que der e vier. E até um dia.

Sou da opinião que conviver com faltas de confiança é incómodo. Mas pode também ser fácil porque tem sempre solução. Depende do que sentimos pelas pessoas. E do que, por causa desse sentimento, estamos dispostos a aturar. Considero cruel deixar alguém que gosta de mim num estado de desconfiança prolongado. Se desconfia e tem a frontalidade de mo dizer, devo assegurá-la de que não tem motivos para isso. Ou então ser honesto e dizer que afinal tem razão em desconfiar.

Feitas as contas a tudo isto, a falta de confiança no outro e a insegurança andam de mãos dadas. E construir confiança muitas vezes passa por ter paciência e afagar o coração de quem, por ser inseguro, não confia. Assim, se a pessoa vale a pena, estaremos a investir numa coisa que pode mesmo ser muito boa.

E quando assim é, as desconfianças ficam para trás, a insegurança desvanece-se e toda a gente ganha. 

Beijos & Abraços,

MP

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Das Desistências

Ter facilidade em desistir é próprio de quem gosta de coisas fáceis. De quem não tem força ou não quer lutar. De quem acha que aquele objectivo, perante alguma dificuldade, não vale a pena.

Acho que uma boa base de decisão para quem quer saber se deve desistir ou não é saber se o objectivo é válido. Se vale mesmo a pena. Aqui pode pensar-se ou sentir-se. A cabeça ou o coração (dependendo do objectivo) devem ser ajudar-nos a decidir se queremos chegar aonde (ou a quem) queremos e, depois, ficar lá e gozar os frutos do que trabalhámos para ter. Para mim, esta não é uma decisão que se tome de ânimo leve. Não me basta decidir um belo dia que quero comprar um BMW e depois obcecar-me com a compra do carro. Não basta decidir hoje que quero alguém para mim e passar a persegui-la. Não confundam objectivos de vida com conquistas fugazes.

Quero com isto dizer que ter um objectivo deve ser uma coisa duradoura. Algo que fica connosco à medida que os dias passam. E que, de forma saudável, nos motiva a trabalhar a a levantar-se da cama. Quando assim é, desistir é um erro.

Desistir do que (ou de quem quero) não é para mim. Dentro das regras da convivência sã e sem tornar-me chato ou contra-producente, luto. Luto quando acho que vale a pena. E não desisto facilmente. Até saber de forma inequívoca que, por mais que eu queira, não chego lá. Aí há que retirar-se graciosamente e seguir em frente.

Faz-me impressão quem desiste porque é difícil. Quem desiste porque tem mau feitio. Quem desiste porque acha que tudo lhe deve vir bater às mãos sem esforço. Esta, meus amigos, é a essência de se achar melhor que os outros. E com isto eu não convivo.

Por outro lado, saber quando desistir também é uma virtude. Ser contrariado, maltratado, ignorado, desrespeitado e travado de forma constante é um sinal de que está na hora de ir embora. De, educadamente e sem brigas tontas, retirar-se. Porque a linha entre uma pessoa persistente e um palhacinho inconveniente é muito ténue. E então resolve-se. A bem da nossa saúde mental e das mais elementares regras de convivência.

Mas de qualquer forma e durante algum tempo vai ficar sempre a dúvida: quem é que ficou a perder? E isso amiguinhos é uma reflexão que pode embrulhar até as mentes mais seguras e os piores feitios.

Beijos & Abraços,

MP

sábado, 4 de janeiro de 2014

Das Cartas de Amor I

Nunca fui de escrever cartas de Amor. Acho que não tenho jeito. Mas resolvi fazer umas incursões nesta área.

Esta podia ser uma carta de amor. Mas não é. :)

"Meu Amor,

De ti não espero nada. 

Não espero que me dês a mão. Não espero que me faças café de manhã. Não espero que fiques comigo até o meu Sol se pôr. Não espero que todos os dias me digas que me amas, que me adoras e que me queres. Não espero que me acendas um cigarro quando me apetecer fumar. Não espero que cozinhes para mim. Não espero que me esperes acordada. Não espero que me digas que tens saudades minhas e que, longe de mim, te sentes incompleta.

Não espero que me digas que queres ver o Sol nascer a meu lado todos os dias. Não espero que me digas que sou a tua vida. Não espero que me ouças tocar e cantar com um ar embevecido e que adores ouvir-me todos os dias. Não espero que queiras tomar conta de mim, que queiras cuidar de mim ou ouvir os meus dramas quando estou num dia mau. Não espero que atures as minhas birras e os meus ataques de ciúme. Não espero que vivas para mim e por mim.

Não posso esperar que me leias os pensamentos. Nem que me lembres todos os dias como sou importante para ti. Não posso esperar Amor incondicional e constante, como se de oxigénio se tratasse. Não espero que vivas tudo tão intensamente como eu. Não espero que, como um rochedo, enfrentes tudo e todos por minha causa. Não posso esperar que eu diga "mata" e tu digas "esfola". Não espero convencer-te com raciocínios lógicos. Não espero ques ejas minha cúmplice em tudo. E não espero juras de Amor eterno.

Não espero nada de ti.

Mas quero tudo. Porque podes esperar tudo de mim.

Porque te amo."

Beijos & Abraços,

MP