terça-feira, 29 de outubro de 2013

Dos Enxovalhados (e Do Reconhecimento)

"Enxovalhados" é um termo interessante. Um bocado violento também. Mas aplica-se mais do que vocês pensam. 

Para mim, o reconhecimento de um trabalho bem feito é o principal combustível da motivação. É o que me faz (a mim e a muito boa gente) ter vontade de continuar a fazer mais e melhor. É também óbvio que o dinheiro faz parte. E é essencial. Mas o lugar comum aqui aplica-se como uma luva: o dinheiro não é tudo...

Por reconhecimento não deve entender-se homenagem nem bajulação. Reconhecer coisas bem feitas passa muitas vezes pelo uso da palavra "Parabéns" ou da expressão "Bom Trabalho". Passa por dizer publicamente que esta ou aquela pessoa (ou este ou aquele grupo de pessoas) fizeram um trabalho bem feito. Que, se não tivessem sido elas a fazer, provavelmente não seria tão bom.

Quem é reconhecido de forma clara trabalha melhor. Ou então fica com o ego inchado, descansa à sombra da bananeira e estraga tudo. Não há terceira opção. Nem vou aconselhar o que fazer com egos inchados. É melhor não! :)

Não ser reconhecido traz, numa fase inicial, alguma revolta. Se a falta de reconhecimento for constante e prolongada, traz até letargia e desânimo. Nenhuma das duas situações é aconselhável para se ser producente. Para podermos estar sempre no nosso melhor. Sentimo-nos portanto... Enxovalhados. Porque muitas vezes temos a consciência que demos mais atenção a esta ou áquela pessoa. Ou de que fizemos um bom trabalho. Que aquela atenção não teria sido dada por mais ninguém. E que o trabalho foi bom. E que outra pessoa não o teria feito tão bem.

Sentir-se enxovalhado é uma situação estranha. Muitas vezes não é grave o suficiente para nos afastarmos de alguém ou deixarmos de trabalhar neste ou naquele sítio. Mas é chato o suficiente para nos sentirmos tristes e pouco apreciados. As mentes mais fortes agarram-se aos resultados positivos e continuam a "remar". As mais fracas tornam medíocres as relações e os trabalhos. Mas, por mais forte que se seja, há sempre momentos de ruptura. Acontecem mais cedo ou mais tarde e de forma mais ou menos pacífica.

Quando se sente que está na altura de mudar, provavelmente temos razão. O mais grave destas situações é quando, quem perde um bom Amigo ou um bom Profissional por falta de reconhcimento, segue em frente como se nada fosse. Muitas vezes baseado numa ideia parola de que "ninguém é insubstituível". Desenganem-se! Quanto mais pequenos são os meios onde estamos inseridos, mais difícil se torna substituir pessoas e profissionais. É claro que as pessoas não deixam de viver se perdem um Amigo e as empresas não fecham se perderem um bom Profissional. Prefiro dizer que, realmente, ninguém é insubstituível... o que há é pessoas mais difíceis de substituir do que outras!

Assim sendo, sejam proactivos. Reconheçam de vez em quando quem vos faz bem. Ou quem faz um bom trabalho. Vão ver que as relações se tornam mais harmoniosas e produtivas. E toda a gente sai a ganhar. As palavras "obrigado", "parabéns", "bom trabalho", "gosto de ti", "fazes-me bem", "sem ti isto não seria possível", entre outras, fazem parte do dicionário. E são para serem usadas. Com mais ou menos moderação, decidam vocês. Mas a inconsciência de não as usar pode trazer-nos dissabores. E é tão fácil evitar dissabores...

Reparem: quem é equilibrado e consciente, não prejudica ninguém se não for reconhecido. Mas, com o tempo, entristece-se. E depois, por uma questão de auto-preservação, vai-se embora...

E, na maior parte das vezes, deixa saudades. 

Beijos & Abraços,

MP

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Da Realidade

Ao contrário do que possa parecer, não há nada de objectivo na noção de realidade. Temos o hábito de nos referir à realidade como um conceito definitivo e absoluto. De forma mais ou menos frequente usamos a expressão "a realidade é esta" ou "esta é que é a realidade". Olhem que pode não ser bem assim...

A experiência e as vivências encarregam-se de nos mostrar que é mais coerente assumirmos a existência de realidades (plural). A realidade desta ou daquela pessoa pode ser diferente da de outra. Mais: dependendo da forma como se pensa e como se vê as coisas, a mesma situação pode gerar realidades diversas. Tantas quantas forem as pessoas envolvidas.

Penso que a palavra chave aqui é percepção. Costumo dizer que a verdade (ou realidade) absoluta não existe. O que há é percepções diferentes da mesma situação. Dependendo do ponto de vista, tudo é subjectivo. E relativo.

Talvez por isso eu prefira manter-me fiel aos meus princípios e maneiras de resolver as coisas. Mas também opto por manter uma mente aberta às percepções diferentes das minhas. Não concordo com todas. Há algumas que nem tolero. Mas reconheço que existem e procuro conviver com elas. E a convivência com pessoas traz como "brinde" a convivência com realidades diferentes da nossa. Há, naturalmente, coisas difíceis de aceitar. E quanto mais "brilhante" for a mente  com a qual nos confrontamos, mais difícil fica esta aceitação. E mais difícil fica a convivência.

Além disso, a reflexão e o tempo por vezes encarregam-se de nos fazer mudar de percepção. A aprendizagem é isso mesmo. E a subjectividade das coisas cria essa abertura. Trata-se, no fundo, de pesar os prós e os contras de tolerarmos (ou não) esta ou aquela realidade. Se as vantagens forem mais do que as desvantagens, o saldo é positivo. Então, força! 

Mas tenham sempre em atenção os vossos princípios. É que, no fim das contas, quando tudo o resto falhar (ou quando as pessoas vos falharem), pode não vos restar mais nada. E os princípios é que vos vão trazer alguma estabilidade e capacidade de seguir em frente. Andar ao sabor dos outros também não é postura que se defenda. Nem é aconselhável para uma vida coerente.

Beijos & Abraços,

MP

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Das Decisões

Caríssimos,

A tomada de decisões é uma constante nas nossas vidas. Seja pela frequência com que as tomamos ou pela necessidade absoluta de seguir em frente, num processo de amprendizagem constante.

Desde a escolha da roupa que vamos levar, ao caminho que vamos tomar para o trabalho, passando pela contnuidade (ou não) de uma relação, tudo obriga a escolhas. Não há volta a dar. Há coisas pequenas que são automáticas e quase inconscientes. E que não obrigam a muita reflexão. E depois há as outras...

Quando se trata de decisões mais importantes, o caso muda de figura. Porque a consciencialização dos prós e dos contras obriga-nos, muitas vezes, a reflexões mais profundas. E, em alguns casos, dolorosas. Mas que têm mesmo de ser feitas. Se não, não há quem aguente. Tenho para mim que é melhor tomar decisões (ainda que desgradáveis), do que andar a "empurrar com a barriga" soluções necessárias e, nos piores casos, urgentes. É que adiar é o caminho mais fácil. E, por não ser definitivo, menos doloroso. Mas quando se é consciente e se valoriza a sanidade mental, torna-se insuportável não decidir.

Podem também argumentar que tomar decisões é desnecessário. Que basta deixar andar. Não vou negar que é uma ideia válida. Mas é própria de quem é fraco de espírito. Reparem: ser fraco de espírito só por si, pode até nem prejudicar ninguém. O problema é que esta fraqueza vem normalmente acompanhada de um egoísmo muito próprio. E, mesmo sendo inconsciente, magoa as pessoas com quem nos relacionamos. Porque os fraquinhos querem é que, para eles, esteja tudo bem. Até se podem esconder por trás de posturas do género "mas eu até nem faço mal a ninguém" ou "só quero é que me deixem quieto". Mas destes... não reza a História.

Então que se decida. Que se pese os prós e os contras. E que se tome decisões em consciência. Para o bem e para o mal. Porque o que se ganha é o encerramento de assuntos e de processos que, muitas vezes, são dolorosos e penosos. Porque o torpor em que se entra quando se adia sucessivamente não é saudável para ninguém.

Digo eu que a parte mais difícil da tomada de decisões vem depois. Vem da responsabilidade de viver com o que se decidiu e com as consequências que daí adveem. Aqui é que se vê a força de carácter das pessoas e a vontade de seguir em frente e poupar os outros a tristezas prolongadas e desagradáveis.

Nada precisa de ser definitivo e fatalista. Podemos sempre voltar atrás. Porque voltar atrás é mais um processo de tomada de decisão. E aqui é precisa mais determinação e mais humildade. E o assumir de erros em decisões prévias. Esta "carta branca" para voltar atrás não deve ser entendida como leviana e perdulária. Deve ser usada com responsabilidade e procurando um equilíbrio entre cabeça e coração.

Admitir que se está errado é nobre. Mas andar sempre a cometer erros em relação ao mesmo assunto... é pouco inteligente. E, nos piores casos, é desumano.

Beijos & Abraços,

MP



sábado, 5 de outubro de 2013

Do Trabalho Honesto

Meus Caros,

Este texto tem origem em algumas vivências recentes. E é também um assunto sobre o qual sempre quis escrever.

Penso que, antes de se começar qualquer trabalho (seja em que área for), há que validar internamente (de si para si) a honestidade do mesmo. Simples: é trabalho honesto ou não? Ao fazê-lo estarei a enganar alguém? Ou a mim próprio? Estarei a fazer alguma coisa para a qual não sou qualificado? Se, depois de feita esta análise, estivermos de consciência limpa em relação a todas estas questões, então que se avance. Sem receios e sem medo de críticas ressabiadas e descabidas de quem, por um motivo qualquer, ache por bem opinar. Para mim qualquer trabalho só pode ser exercido com motivação quando nos sentimos bem e tranquilos ao fazê-lo. Se assim não for, mais cedo ou mais tarde, dá asneira. Porque se torna, para quem é consciente e tem princípios, insuportável.

Infelizmente não basta ter a consciência da honestidade da coisa. É preciso também pensar se temos capacidade para o fazer. Se houver consciência das limitações que temos, a análise deste ponto será pro-activa e evita chatices e embaraços. Se essa consciência for inexistente, caberá à vida, mais cedo ou mais tarde, voltar a por as coisas e as pessoas nos seus lugares. Mas isso já é outra conversa, para outro texto.

Procurei ter sempre esta honestidade em tudo o que fiz na vida. Há quem diga mesmo que perdi algumas coisas por ser demasiado "agarrado" a esta ideia de honestidade. Poderão até ter razão. Mas é daquelas coisas das quais não abdico.

Para ilustrar o meu ponto de vista, posso dar-vos um exemplo. Eu sou cantor, pianista, locutor e, aqui e ali, toco um bocadinho de viola-baixo. Mas só um bocadinho mesmo. Nada de especial. Na profissão que exerço apresento-me em vários formatos e com várias formações. Tenho um trabalho a solo, só como cantor, acompanhado por instrumentais pré-gravados. Tenho outro, também a solo, como pianista/ cantor, no qual toco piano e canto. Tenho um trio com um baterista e um baixista. E canto também com uma big band. Antes de me dedicar e começar o trabalho de casa que qualquer destes formatos exige, fiz a tal reflexão da honestidade. E cheguei à conclusão que sim, que são trabalhos honestos. Porque só canto ou toco temas que estou habilitado e preparado para tocar. E porque, acima de tudo, não engano ninguém. Não finjo que estou a tocar um instrumento que, afinal, não estou a tocar. Bem ou mal (decidem vocês) faço o que me propus a fazer. Se é para tocar, toco. Se é para cantar, canto. Se é para fazer as duas coisas, faço.

Quem acompanhou a evolução da tecnologia musical ao longo dos últimos anos sabe que é cada vez mais fácil apresentar-se como "músico" e fingir que se toca um instrumento. Considero isso uma fraude vergonhosa que devia ser punida por lei. Porque, não tenham dúvidas, é disso que se trata: de uma fraude.

Cabe a mim, como profissional de Música, adaptar-me ao mercado no qual estiu inserido. Se quem me contrata quer um cantor, eu apresento-me a solo, como cantor. Se querem um pianista/ cantor, também faço. Se querem um trio, levo a minha malta. Se quiserem um guitarrista, lamento mas não posso fazer. Porque não sei fazer. Mas há quem o faça muito bem.

O que me entristece é que se queira denegrir trabalhos honestos. Atacando-os como se fossem causadores de algum mal. A revolta, o desespero e a falta de alguma frieza de raciocínio podem levar-nos a opiniões e a atitudes injustas, cruéis e perfeitamente descabidas. Que podem até vir de quem tenha memória curta ou, pior do que isso, selectiva. E o problema é que, quanto mais pequeno é o meio no qual vivemos, mas eco essas vozes podem ter. E mais estragos podem fazer em vidas e em mercados que se querem sãos e de concorrência livre.

Assim sendo, penso que não devemos descarregar nos outros (e em quem não nos fez mal nenhum) as frustrações que a vida nos traga. O trabalho dos outros não pode (nem deve) ser motivo para a nossa falta de preparação, de talento e de trabalho. Nem pode ser motivo para a falta de oportunidades que, em várias alturas da nossa vida, acontece.

Conheço casos evidentes e gritantes de colegas que, pura e simplesmente, não têm trabalho. E são dotados de um talento incrível. Isto sim é uma injustiça. E a estes procuro ajudar sempre. Mas não o faço forçando o mercado a aceitá-los. Faço-o (e já o diz muitas vezes) tentando criar oportunidades para que eles trabalhem e possam ser vistos por quem tem o poder de tomar decisões. Quem me conhece e lida comigo, sabe perfeitamente do que falo.

Posto isto: em frente!

Beijos & Abraços,

MP