quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Dos Novos Talentos

Amiguinhos,

É altura de escrever mais sobre Música. E sobre arte em geral. Mas tenho uma preferência natural por aquilo que faço todos os dias. Assim, falo-vos hoje sobre novos talentos. E sobre as complicações que, para algumas mentes iluminadas, aparecem quando se fala de gente nova a fazer coisas boas.

Os novos talentos são para ser acarinhados. É claro que antes é preciso aferir se são mesmo talentos ou se são apenas "jeitosos". Por jeitoso deve entender-se todo aquele que até pode ter um certo jeito para a coisa, mas a quem ainda falta algum caminho a percorrer. E das duas uma: ou percorre esse caminho com a dedicação necessária, ou passa a vida a ser um jeitoso. Que não é carne nem é peixe. E o lugar desses não é nos mesmo círculos que os profissionais sérios. Aqui é importante não confundir talento com potencial. E mais: mesmo depois de haver alguma dedicação, pode chegar-se à conclusão que não passa apenas de "jeitinho". Nessa altura é importante dizer de forma inequívoca o que a pessoa em questão tem de ouvir. Para evitar situações constrangedoras que, nos casos piores, envolvam um Público que não tem culpa nenhuma.

Ser talentoso e estar pronto para fazer da Música profissão, são também duas coisas diferentes. Para se ser músico não basta tocar (ou cantar) 3 músicas do princípio ao fim. Implica ter um repertório relativamente vasto. E organizado. Implica saber os tons em que se canta e tê-los dominados e prontos para serem executados em qualquer altura. Importa saber o que se adequa aos espaços onde se vai fazer música. É fundamental ter repertório para se adaptar a qualquer tipo de público. De outra forma, vai haver constrangimentos que podem perfeitamente ser evitados.

Uma vez identificado um novo talento, deve-se incentivá-lo. Brigar e impor disciplina, se for esse o caso. Fazê-lo ver que as horas infindáveis de trabalho de casa são essenciais para depois haver momentos de felicidade e realização quando somos aplaudidos e temos o Público connosco. Que, não tiver estofo para isso, desista já. E não façam profissionais sérios perder tempo. Eu pessoalmente odeio que me façam perder tempo. 

Devemos também puxá-los para um palco quando estiverem prontos. Fazer por eles tudo aquilo que gostaríamos que fizessem por nós. Sem medos e sem invejas tontas. Porque há lugar para todos. E se o Público gostar mais deste ou daquele artista do que de mim, de que me vale tentar evitar seja o que for? Mais cedo ou mais tarde os melhores acabam por ser reconhecidos. E nada melhor do que sentir a satisfação de ter ajudado alguém. Sem interesses escondidos nem desejos de controlo.

Vou dar-vos um exemplo: há uma Cantora madeirense que recentemente despertou a minha atenção. No intervalo de uma sessão de estúdio, ouvi-a cantar baixinho. E o meu ouvido disparou porque gostou do que ouviu. Porque havia um "je ne sais quoi" que me alertou. Procurei-a depois. Conversámos e ouvia cantar a sério. Além de ser gira, canta muito. É afinada. E tem vontade de ser e aprender mais. Se essa vontade de mantiver, a menina vai longe. E eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que isso aconteça. Porque talento daquele não é para estar fechado em casa. É para voar. Se eu puder dar uma ajudinha com umas assas extra, que seja. Vou fazer o que pouca gente fez por mim.

Mas nunca por nunca ajudem novos talentos para enaltecer egos. Nem esperem nada em troca. Façam-no porque sim. Façam-no para vê-los voar. E se a vida (ou a carreira) os levar mas longe do que vocês, fiquem orgulhosos. Sorriam sempre. E digam-lhes adeus com a consciência que fizeram tudo o que podiam.

Beijos & Abraços,

MP

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