domingo, 19 de janeiro de 2014

Da Confiança

Este é um assunto sobre o qual me custa um bocado escrever. Mas, nem que seja por uma questão de mera catarse, aqui fica.

Devo dizer que só confio a 100% numa pessoa. Não vou cometer a deselegância de vos dizer quem é. Com isto não quero dizer que não confio em mais pessoas. É claro que confio. Mas será sempre numa percentagem inferior. Que pode ir dos 0 aos 90%. E tudo depende de há quanto tempo a conheço e do historial que temos.

Ganhar a minha confiança é extremamente difícil. E aqui não falo de coisas corriqueiras. Para estas coisas até sou demasiado confiante e crente nas pessoas que me rodeiam. Mas no que diz respeito a assuntos mais profundos e importantes... aí é que são elas. Não sei bem porquê. Há quem diga que seja insegurança. Eu acho que é resultado de vivências menos boas e, em alguns casos, mais dolorosas.

A verdade é que a ausência de confiança absoluta em alguém nos traz uma espécie de almofada onde podemos cair quando, de uma forma ou de outra, nos traem. Porque, de qualquer forma, é como se já estivéssemos à espera. :) Poucas coisas me abalam tanto como quando descubro que me trairam a confiança. E a partir daí nada é igual. Pode até ser parecido. Mas igual não é. Porque eu perdoo tudo. Mas não me esqueço de rigorosamente nada.

A construção da confiança entre duas pessoas deve, para mim, basear-se em duas coisas: palavras sentidas e fequenetes e actos que nos façam acreditar que podemos pôr a nossa Vida nas mãos daquela pessoa. Que, aconteça o que acontecer, ela não nos deixa cair. Penso que não há sensação tão confortável e calorosa como essa.

E penso que num período de construção de confiança devemos ter cuidado com as promessas que fazemos. Com as planos que partilhamos em momentos de euforia e de felicidade extrema. É que a euforia e a felicidade extremas são normalmente fugazes. E, depois, quando passam, deixam em quem as fez uma sensação desconfortável de "agora tenho de viver com as promessas que fiz". E deixam em quem as ouviu uma sensação calorosa e expectante que, depois, pode eventualmente trazer desilusões. E com desilusões não se constrói confiança. Para mim funciona exactamente ao contrário.

Acho que não devemos querer confiar em alguém. Devemos, isso sim, deixar que a confiança se construa baseada em vivências em comum. E em provas, ainda que inconscientes, do merecimento dessa mesma confiança. Aí até colocamos a nossa vida, o nosso coração e a nossa reputação nas mãos da outra pessoa. Para o que der e vier. E até um dia.

Sou da opinião que conviver com faltas de confiança é incómodo. Mas pode também ser fácil porque tem sempre solução. Depende do que sentimos pelas pessoas. E do que, por causa desse sentimento, estamos dispostos a aturar. Considero cruel deixar alguém que gosta de mim num estado de desconfiança prolongado. Se desconfia e tem a frontalidade de mo dizer, devo assegurá-la de que não tem motivos para isso. Ou então ser honesto e dizer que afinal tem razão em desconfiar.

Feitas as contas a tudo isto, a falta de confiança no outro e a insegurança andam de mãos dadas. E construir confiança muitas vezes passa por ter paciência e afagar o coração de quem, por ser inseguro, não confia. Assim, se a pessoa vale a pena, estaremos a investir numa coisa que pode mesmo ser muito boa.

E quando assim é, as desconfianças ficam para trás, a insegurança desvanece-se e toda a gente ganha. 

Beijos & Abraços,

MP

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