domingo, 4 de agosto de 2013

Da Inocência

Amiguinhos,

Quem é que tem saudades de tempos (e idades) de inocência? Eu tenho. Não de forma angustiante e doentia, mas tenho. Do tempo em que tudo era leve e inconsequente. Porque havia sempre alguém que resolvia as asneiras que fazíamos e minimizava  as consequências com comentários do género "não foi com maldade" ou "são coisas de miúdos". Em que os castigos eram umas palmadas ou "vai para o teu quarto". Em que tudo ficava resolvido de forma quase imediata. E em que ficávamos prontos para outra depois de umas lagrimazitas ou de amuarmos um bocado.

Era bom porque tudo era natural. Ríamos, chateávamo-nos, andávamos ao estalo e voltávamos ao normal num abrir e fechar de olhos... Naturalmente. Não havia "lutos" por coisas tontas e os padrões sociais e de comportamento aplicavam-se aos "grandes". Aos "adultos". Aos "chatos". :)

Até sentirmos na pele a primeira dose de crueldade fora do normal. Viesse ela em que formato viesse: num estalo dado com força desnecessária, numa conversa brutalmente honesta ou na responsabilização por um acto verdadeiramente grave. Ou na imposição de mudanças que não queríamos nem estávamos prontos para aceitar. Daquelas que nos faziam contrair os músculos todos do corpo, tamanha era a revolta. 

Tenho um amigo que diz que, até se perder a inocência, havia felicidade. A partir daí o que há são momentos de harmonia. E felizes são aqueles que conseguem contabilizar mais momentos desses. Por muito que me custe, sou obrigado a concordar.

Durante muito tempo (mais do que o normal) tentei manter e cultivar uma inocência duradoura e relativa que me permitia, digo eu, ser mais feliz. Mas depois vem a pancada. As desilusões. E a repetição mais do que frequente da expressão "parece que não aprendo".

Mas o ser humano tem uma capacidade de recuperação fora do normal. E então recupera. Procura sempre uma resolução interior que lhe permita ter uma paz mais ou menos duradoura. Um "seguir em frente" tranquilo. A mossa fica mas não precisa de doer todos os dias. :)

Há um truque interessante para se ter muitos dos tais "momentos de harmonia". Trata-de fazer uma coisa a que chamo "reset da inocência". Como se um computador se tratasse, reiniciamos os sentimentos de forma a acreditarmos novamente na bondade das pessoas, na ausência de sentimentos negativos. A capacidade de apagar (ainda que temporariamente) coisas más, é uma alegria. Porque senão, não há quem aguente. É bom ter a capacidade de re-injectar inocência na nossa vida. Uma vez. E outra. E as vezes que forem necessárias. Garanto-vos que serão felizes mais vezes. :) Pode não ser por muito tempo. Mas mais vezes, serão de certeza.

Não digo que devamos ser inconsequentes. A prudência tem sempre lugar na vida das pessoas. E evita chatices. Mas ser prudente não é viver com medo, nem num comodismo tonto que nos adormece e que nos tira, mais cedo ou mais tarde, a alegria de viver. 

Idealmente devemos ter sempre um bocadinho de nós que ainda mantém a inocência e a simplicidade de outros tempos. Uma espécie de reservatório que vamos usando quando a coisa fica mais negra. Porque esse reservatório é o que nos dá a capacidade de ver um lado bom em tudo. Por mais escuras que as coisas nos pareçam. E de ser perseverantes por mais negas que nos dêem. 

O bocadinho de inocência "recarregável" que ainda hoje mantenho, permite-se sempre acreditar de novo. E começar de novo. E fazer asneiras. E corrigi-las. E levantar-me.

E eu levanto-me. Sempre!! :)

Beijos & Abraços,

MP

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