Há coisas que não se dizem. Por mais verdade que sejam. Ou porque podem não ser verdade. Uma boca que diz alguma coisa pode, logo a seguir, arrepender-se pedir desculpa. Mas os ouvidos que a ouvem... raramente esquecem. Estou obviamente a falar de coisas fortes.
Eu posso achar que o casaco de uma pessoa é feio. Mas não devo dizer assim, à papo-seco. Corro o risco de deixar de ser apenas frontal e passar a ser rude e mal-educado. Os sentimentos de quem nos ouve devem ser sempre tidos em conta. Embora, por vezes, seja libertador dizer coisas da boca pra fora que, muitas vezes, nem sentimos.
Mas aqui importa distinguir entre o tipo de coisa que se diz. Há coisas más que magoam. É quase cruel dizê-las sem preparação. Sem adocicar a coisa antes de vir a parte amarga. Quem tem prazer em dizer coisas que sabe que vão magoar, não pode ser boa pessoa. Já apanhei pessoas assim. E passam uma imagem de crueldade e de maldade pura, que às vezes até se nota nos olhos. Não ter em conta o que pode estar por trás de uma cara, os sentimentos e vivências que lá andam, é desumano e irresponsável.
E até quando dizemos coisas boas (ou muito boas) corremos o risco de estar a ser inconsequentes. Por dois motivos: é importante termos a certeza do que estamos a dizer; e o efeito na outra pessoa pode ser, numa primeira fase, muito bom. Mas, se fomos irresponsáveis ao dizer coisas boas que sentimos (ou ao prometer alguma coisa), podemos depois ter que deitar um balde de água fria em alguém que, se formos a ver, não teve culpa nenhuma. E até tinha as expectativas realistas até o irmos incomodar.
Mais uma vez defendo o equilíbrio e a ponderação. Se vamos dizer alguma coisa má, pensamos primeiro. Se vale a pena dizer, se é realmente assim tão grave, se temos mesmo razão. Depois de feita esta reflexão, pensamos então em formas de dizer. À bruta magoa e causa discussões evitáveis. Com algum cuidado, não somos menos firmes no que temos a dizer, mas demonstramos preocupação, respeito e consciência.
Quando o que temos a dizer é bom, a coisa pode ser ainda mais grave. No meio de situações em que sentimentos estão exacerbados, é fácil dizer coisas inconsequentes. Por exemplo: "estou apaixonado", ou "gosto de ti", ou "vamos trabalhar juntos", ou "vou dar-te um aumento". As coisas boas que se dizem criam expectativas. E trazem esperança a quem ouve. São viciantes e contagiosas! :) Assim, devemos fazer o mesmo exercício e ir buscar o equilíbrio. Pensar primeiro se sentimos o que dissemos. Ou se podemos cumprir o que prometemos. Se assim for, força! Que se diga. As coisas boas são sempre bem-vindas. Se assim não for, que se amadureça ideias. Que se leve o tempo que for preciso. Mas não sejam inconsequentes. Não andem para a frente e para trás.
Uma das coisas mais difíceis de recuperar é a confiança de uma pessoa. E, depois do mal estar feito, há sempre formas de corrigir. Não são nunca ideais, mas têm de ser feitas. Não vale a pena pensar "se eu não falar mais nisto, pode ser que ela(e) se esqueça". Magoa, destrói e revolta. Portanto: sejam adultos e responsáveis. Quando se tem de andar para trás, que se ande de forma recta, honesta, inequívoca e humilde. Ainda pode ser que se salve alguma coisa.
Mas o ideal é não sermos inconsequentes. Tenho um Director (e Amigo) que diz "não é o que se diz. É como se diz". E eu acrescento: há coisas que, não sendo reais e constantes, mais vale não dizer.
Beijos & Abraços,
MP
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