quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Da Solidão

Caros,

A solidão só por aí não me assusta. Às vezes é até necessária e salutar. Mas tem, como quase tudo na vida, várias variantes e várias vertentes. Aviso desde já que este é um tópico no qual, quanto mais se pensa, mais se chega a conclusões que, aqui e ali, não fazem bem à saúde.

A noção de solidão crua, sem mais nada, incomoda-me. A ideia do "não tenho ninguém" ou "estou sozinho no Mundo" pode até ser agonizante. Sente-se de vez em quando aquela sensação de "não ter chão" se nos acontece alguma coisa. A agonia de não termos para quem nos virar quando as coisas correm mal pode ser preocupante. Mais: quando realmente gostávamos de ter alguém por perto e, pura e simplesmente, não temos, a tristeza torna-se ainda mais profunda. E daí até ficarmos com pena de nós próprios é um passo. É uma espécie de bater no fundo...

Por outro lado, há alturas em que quero estar só. Preciso de estar só. Toda e qualquer companhia irrita-me. Acreditem que passear num jardim, num centro comercial, fazer uma viagem ou ir ao cinema sozinho pode, por vezes, salvar estados de espírito. Dá-nos clarividência e tempo para passarmos só com a pessoa de quem devemos gostar mais: nós próprios. Quem não aceita que os outros têm necessidade de estar sós, não sabe o mal que pode estar a fazer. Pode sufocar e afastar o outro. Seja por insegurança, ciúme ou maldade pura. Seja porque motivo for, não ajuda em nada. A tolerância, a aceitação e o amor que se possa sentir têm aqui um papel demasiado importante para ser descartado por causa de pensamentos pequeninos. A vontade de ajudar pode ser muito forte. A de perceber o que se passa também. Mas desistir e deixar o outro resolver a coisa também é boa ideia. E é de louvar.

Sabem quando é que a solidão me preocupa? É quando, apesar de estarmos sempre rodeados de pessoas, nos sentimos sós. E quanto mais expectativas temos de receber um sms, um abraço, um beijo, uma surpresa boa que nos faça sentir acompanhados, pior é a desilusão. E maior é a solidão. No princípio irrita-nos que, quem está à nossa volta, não nos compreenda. Depois, por gostarmos de algumas pessoas, aceitamos. Mas a sensação de vazio, de esperança perdida, de solidão extrema fica connosco. Se quisermos mudar de forma radical, precisamos de coragem. De força e de determinação. Mas devo confessar que são poucos os que o conseguem fazer. Largar todos os que fazem parte da nossa solidão acompanhada é uma tarefa hercúlea. Até porque, depois, a solidão pode ser outra. Pode ser pior. Pode ser maior.  E pode até não ter remédio.

Assim sendo, para combater a solidão povoada de gente, só conheço uma forma: criar um Mundo próprio onde só nós é que mandamos. Porque assim os sorrisos voltam. E as companhias passam a servir só para o que nós queremos. Quando nos queremos. Ainda que, fisicamente, nos sintamos obrigados a estar ao lado das companhias que temos, mentalmente podemos voar e desaparecer. E quem escolhe quando nos queremos sentir acompanhados somos nós. Quando precisarmos de companhia, abrimos a porta e deixamos entrar quem queremos, para o que queremos e durante o tempo que queremos.

Se há aqui uma dose de egoísmo? Claro que há. Mas evita males maiores.

Beijos & Abraços,

MP

Sem comentários:

Enviar um comentário