sábado, 31 de agosto de 2013

Das Adaptações

Caríssimos,

A noção de que não vivemos sozinhos no Mundo é, para alguns de nós, uma aprendizagem difícil. Mas faz-se. E é obrigatória, por uma questão de sobrevivência e de convivência salutar com as pessoas que nos rodeiam. E com as situações que nos aparecem.

Penso que já perdi a conta ao número de vezes que ouvi alguém dizer "eu sou assim, não mudo e estou preparado para viver com as consequências". E há até quem diga isto com um ar altivo, pleno de razão, como se dizer e reconhecer uma coisa destas perdoasse tudo o que vier depois. Não é assim. Ninguém vai pensar "ele é assim e não há nada a fazer" durante muito tempo. Podem até aceitar-se e tolerar-se algumas coisas. Mas não é eterno. E é humano e natural que, mais cedo ou mais tarde, dê asneira.

Ter feitio marcado, definido e recusar adaptar-se a seja o que (ou a quem) for, não é desculpa para nada. Pode até esconder carências afectivas, imaturidade ou mesmo ser indicador de uma falta de educação pura e dura. Não digo que seja de propósito. Às vezes são mecanismos de defesa. Acho que não funcionam porque provocam revolta, mal-estar e dão motivos para ataques e conversas cruéis. E depois entra-se em ciclo vicioso e a escalada de agressões é inevitável. E torna-se, a partir de certa altura, descontrolada.

Adaptação não é fraqueza. Pelo contrário. Adaptar-se é ter uma capacidade de "aconchego" a novas situações e a novas pessoas. É olhar para a vida como um conjunto sucessivo de aprendizagens. É não fechar as portas a outras maneiras de pensar e de agir. Não é necessariamente concordar com tudo o que nos impõem. Mas é admitir que outras cabeças podem trazer mais conhecimento, experiência e, no fim de contas, bons resultados. E isso é bom para todos. Acima de tudo para quem conscientemente decidiu adaptar-se.

Só há um tipo de pessoas que consegue andar pela vida sem adaptar-se: os inconscientes. Para esses até admito que seja simples recusar adaptação. Porque não têm consciência do mal que provocam nos outros, nas situações, nos sistemas onde estão inseridos e... em si próprios. Ignoram sentimentos negativos que a sua intransigência possa trazer. E escondem-se atrás de expressões como "eu não estou aqui para gostarem de mim nem para fazer amigos". Mentira! Toda a gente gosta que gostem de si. Podem até não admitir. Mas, lá no fundo, gostam. 

Quando, depois de tanto tempo a levar a sua avante e a recusar adaptar-se, alguém se dá por vencido, pode ser tarde de mais. Porque, mesmo quem gosta de nós, acaba por se afastar. Para não se chatear a sério ou, pura e simplesmente, por uma questão de preservação. E aí ficamos sozinhos, sem cor, sem ninguém. Passamos a viver sós, com um ego vencido que, no fim, não nos trouxe rigorosamente nada de bom.

Se pegarem na aceitação e na tolerância de que falei em textos anteriores e juntarem à capacidade de adaptação, vão ver que as coisas se tornam mais risonhas. Mais doces. Mais fáceis.

E atenção: adaptar-se não é ceder. É saber quando ceder, por um bem maior.

Beijos & Abraços,

MP






quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Das Diferenças

Caríssimos,

As pessoas são diferentes. As coisas, as situações são diferentes. Não há maneira de contornar isto. Nem é recomendável.

Gosto particularmente de comportamentos humanos. E de tentar percebê-los. Assim sendo, é natural que este texto incida essencialmente sobre as diferenças entre as pessoas. Porque as coisas só têm a importância que as pessoas lhes dão. E as situações são geridas e influenciadas por pessoas. Assim, tudo vai bater à essência de cada um.

Seja resultado da educação, das vivências ou da própria genéticas, os seres humanos são todos diferentes. Até as almas gémeas podem ser muito parecidas. Mas não são iguais. Quantas vezes assistimos a situações com as quais teríamos lidado de forma diferente? Ou seja, qualquer sentimento ou situação que apareça, gera nas pessoas reacções potencialmente diferentes. Caso para dizer: cada cabeça, sua sentença.

Tenho para mim que as pessoas não são nem melhores, nem piores umas do que as outras. São diferentes. E, se houver a tentação de compará-las, cada cabeça é que vai aferir se esta é melhor do que aquela. Ou seja, neste aspecto a realidade torna-se pessoal e relativa..

É natural que tenhamos a tendência de "puxar" as pessoas para as nossas convicções. E quanto mais se gosta de alguém, maior essa tendência se torna. Dependendo dos feitios, não conseguimos evitar querer o melhor para os nossos amigos, ou namorados(as), ou seja o que for. E "o melhor" é, para nós, aquilo que nós fazemos. Ou o que pensamos. As nossas formas de agir são sempre "melhores" do que as dos outros. A noção de "conselho" vem precisamente daqui.

Precisamos é de nos lembrar que "se os conselhos fossem bons, a gente não os dava. Vendia!". Aqui entra mais um sentimento humano muito poderoso: a tolerância. Esta é essencial se queremos andar pela vida de bem com os outros. Não vale a pena dar socos em pontas de faca. Não é sequer producente tentarmos mudar a maneira de pensar das pessoas. No máximo, o que vamos conseguir, é mudar maneiras de agir. Mas de pensar... não. E acreditem que pessoas que agem de forma diferente do que pensam, são fortes candidatos a depressões. 

No fundo, a tolerância é que manda nisto tudo. Não tentem mudar ninguém. Nem esperem que os outros sejam para vós da mesma forma que vocês são para eles. Não é realista. E tenho a certeza que a tolerância vos vai tornar mais felizes. Porque, além de se darem melhor com os outros, vão stressar menos. :)

Todos nós temos fases dou dias em que estamos menos tolerantes. E mais revoltados com as diferenças. Mas, para quem é verdadeiramente tolerante, são apenas fases. E passa. Algumas experiências recentes dizem-me que devemos respeitar o ritmo e as limitações de quem nos rodeia. Mesmo que não concordem, vão ver que é fácil. E não se estragam amizades, nem outro qualquer tipo de relação. Resultado: corre tudo bem e em harmonia.

Lembrem-se: se todos gostássemos de amarelo, o Mundo era uma chatice. 

Beijos & Abraços,

MP

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Dos Animais

Amiguinhos,

Desde miúdo que fui habituado a animais. Acima de tudo a cães. Grandes, pequenos, médios, rafeiros, de raça... Tudo. E tenho lido muita coisa escrita sobre este assunto. Muitos apelos, muita consciencialização. Estava na hora de escrever sobre isto.

Não recrimino quem tenha medo de animais. De cães, de gatos, de tudo o que tenha unhas, dentes ou bico. Por trauma ou porque sim. Cada um tem o direito de ter medo do que quiser. Por mais desnecessário que seja.

Mas tenho dificuldade em perceber as pessoas que não gostam de animais. Há qualquer coisa de errado com elas. É claro que por "animais" deve entender-se "animais domésticos". E para simplificar: cães e gatos. :) Quem consegue pura e simplesmente não gostar destes bichos, tem o coração (ou parte dele) congelado. Porque reparem: os animais pedem-nos muito pouco. Carinho, atenção e comida. Não pedem mais nada. E têm-nos um amor incondicional. Que não morre se lhes dermos uma palmada ou se os castigarmos por algum motivo.  E ninguém no seu perfeito juízo recusa amor incondicional.

Temos de ter a capacidade de dizer não quando sabemos que não temos condições para ter um animal ao nosso cuidado. Porque o resultado de ser temporariamente bonzinho e irresponsável pode lavar a um animal triste. Que não pediu para vir connosco. E que, acima de tudo, não estava a contar ser desiludido.

Costumo dizer que o comportamento de um animal é a extensão do ambiente que ele tem em casa. Animais calmos reflectem ambientes calmos, tranquilos e equilibrados. Os mais maluquitos, podem sofrer de falta de atenção ou de stresses provocados pelos donos. Até os mais mimados não têm culpa. Foram estragados pelos donos, de forma inconsciente, é certo. E depois têm desvios de comportamento que os podem tornar hostis ou mesmo mauzinhos. Mas a culpa não é deles. É nossa.

Tive a sorte de poder viajar um bocado. E, na maior parte dos sítios onde estive, são muito poucos os animais que vejo abandonados ou mal-tratados. E a Lei é muito mais dura com quem é mau ou negligente. E eu compreendo: se nós, enquanto indivíduos, não temos o bom-senso e a disciplina de respeitar os bichos, então que haja legislação que, pelo menos, nos leve a pensar duas vezes.

O que sei é que, quando chegar a casa, a Becas, o Sebastião e a Sofia vão olhar para mim com os mesmos olhos amorosos de sempre. E vão encostar a cabeça às minhas pernas e pedir festinhas. Não vão pedir mais nada. E, até morrerem, vão gostar de mim.

Como sabem, gosto de coisas simples, definidas e limpas. Esta é, claramente, uma delas.

Beijos & Abraços,

MP

domingo, 25 de agosto de 2013

Dos Espíritos Livres

Meus Caros,

Importa fazer uma distinção antes de começar: espírito livre não é o mesmo que espírito libertino. Nem leviano. Também não estou a falar de espiritismo. Tirem daí a ideia. :)

Posto isto: os espíritos livres são, para mim, pessoas que precisam de espaço. De liberdade. De poder fazer o que lhes faz bem à alma. São pessoas especiais e luminosas, cuja presença no Mundo traz coisas boas.

Devem ser encorajados e acarinhados. Devem ser deixados soltos. E as limitações devem ser definidas apenas por eles mesmos. Porque um espírito livre é são. E então sabe até onde pode ir. Sabe o que pode fazer e o que não deve fazer.

O problema está, normalmente, nas pessoas que partilham a vida com um espírito livre. É conveniente que os espíritos livres se juntem. Porque compreendem a necessidade de espaço um do outro. Quando assim não é, normalmente dá asneira...

É preciso uma grande dose de auto-confiança para se partilhar a vida com um espírito livre. Porque quando não se tem essa confiança, temos a tendência a limitar, a castrar, a impor restrições. E depois há duas hipóteses: ou corre bem ou corre mal. E mesmo quando corre bem, o resultado não é, na minha opinião, muito recomendável. 

Para se domar um espírito livre normalmente opta-se pela imposição. E a leveza e a bondade desse espírito vai aceitando as imposições. Acima de tudo quando há sentimentos fortes. Aos poucos, a luz vai-se apagando até se transformar numa normalidade aparente. Que disfarça uma tristeza intensa, uma vontade agonizante de respirar... que foi castrada.

Quando corre mal... bom, quando corre mal o espírito livre bate as asas, voa e não volta mais. E pronto. É simples. Pode até ser pássaro ferido por uns tempos. Mas recupera. A luz tem essa vantagem. Recupera.

Os espíritos livres gostam de muita coisa. De muitas pessoas. De formas diferentes. E o espaço de que precisam é essencial. E o truque é deixa-los fazer o que gostam. Gostar de outras coisas e ter outros interesses, não é descartar nada. É completar-se. Se gostam de nós, voltam sempre. Se não gostam... paciência. 

E normalmente voltam! Porque a coisa que um espírito livre gosta mais é... liberdade! :)

Aviso a quem tem um espírito livre na vida: agradeçam todos os dias. E não os tentem prender. Só os entristecem, em nome de uma mentalidade pequenina que não tem razão de ser.

Beijos & Abraços,

MP

Dos Conformados


Amiguinhos,

Recuso-me a conformar-me. Não quero isso para mim. Quero viver sem a noção de que "isto vai ser assim até o fim". Com a noção de que "isto é o que está reservado para mim e não há volta a dar". Mas está tudo maluco ou quê?

Uma das coisas que me mantém são e motivado é precisamente a possibilidade de fazer coisas diferentes. De conhecer pessoas diferentes. De começar de novo todos os dias. De sentir diferente. De cantar diferente. De fazer coisas que nunca pensei fazer.

Ser inconformado não é fácil. Desenganem-se. Traz dissabores, desilusões e muita coisa que, olhando de forma fria, seria desnecessária. Mas é bom.

Quando se acredita em nós, quando temos a certeza que as intenções, os valores e os sentimentos são genuínas, vale a pena querer coisas diferentes, novas, inovadoras e aliciantes todos os dias.

Os conformados morrem por dentro. E às vezes perdem-se pessoas boas, válidas e interessantes, para dar lugar a zombies que vão deambulando pela vida, desfrutando das poucas coisas que as suas vidas têm. São "coisinhas" que alimentam uma espécie de torpor constante. Mas que tornam as existências menos tristes.

Andar pela vida de forma "automática", tentando corresponder às expectativas dos outros, sem ligar às nossas é uma asneira tremenda. Conformar-se com o que se tem, com desfechos anunciados, com liberdades castradas não pode ser bom para a saúde. A não ser que se queira ser assim. Se assim for, então a felicidade é plena. Estranha, mas plena. Porque o conformismo implica uma espécie de aceitação do que "tem de ser", de princípios impostos, de um conjunto de impossibilidades eternas que, no princípio revoltam e entristecem. Mas depois, com o tempo e a bem de uma sanidade mental relativa, vencem-nos. Derrubam-nos o espírito e a vontade de lutar.

E então... aceitamos. Aceitamos tudo como dado adquirido. Mas quando se chega ao fim e está na hora de fazer balanço, até se pensa: "eu até tive uma vida boa". A única palavra que está mal neste pensamento é: "até"... E lá aparece novamente o sorriso nostálgico de quem, a certa altura, não pediu mais. Não quis mais. E se contentou. Não com o que tinha, mas com o que podia ter.

A aceitação é um dos sentimentos mais poderosos do ser humano. Permite-nos seguir em frente. Assim sendo, os conformados têm um poder de aceitação tremendo. Portanto, consideram-se felizes. E seguem em frente... cinzentos, devagarinho e sem cor.

A música que vos deixo é um hino aos conformados. O António Zambujo canta "Reader's Digest". Uma representação de alguém que chegou à plenitude da SUA felicidade. 

Ser conformado é ser, em certa medida, feliz. Mas eu não quero só felicidade morna. Eu quero tudo. Mesmo que não consiga. Nem que para isso tenha de ficar sem nada meia dúzia de vezes. :)

Beijos & Abraços,

MP

Da Beleza


Amiguinhos,

A minha Amiga Xana Branco escrevia hoje no Facebook qualquer coisa parecida com "e se o novo padrão de beleza fosse... a inteligência?". Ora aqui está um assunto que há muito tempo andava para abordar aqui. Não é tarde nem é cedo. É agora mesmo! :)

Tenho um amigo que diz que "quem gosta de beleza interior é Médico Legista". Não será assim tão linear. Mas é quase. A verdade é que, quando os olhos não gostam do que vêem, muitas vezes se torna difícil conseguir gostar do resto. Pior: muitas vezes se torna difícil dar uma oportunidade ao resto. É claro que o assunto não fica por aqui...

A beleza (ou o aspecto exterior) determinam muitas vezes a predisposição a aprofundar relações. Sejam elas profissionais ou pessoais. Podem até pensar: que futilidade! Mas olhem que acontece mais do que pensam. Acho que deve assumir-se quando se procura, acima de tudo,  pessoas bonitas exteriormente. Para seja o que for. Para namorar, para trabalhar, para conviver. Pessoalmente acho isto um erro. Mas, se se assumir abertamente... digamos que, pelo menos, não somos hipócritas.

Deve sempre dar-se uma oportunidade à beleza interior ou ao talento. Às vezes justifica-se (mesmo que se procure pessoas com bom aspecto) e o resultado final é claramente positivo. Aí não há volta a dar. Não consigo evitar deixar aqui uma nota pessoal: não me considero (nem de perto, nem de longe) um rapaz bonito. E já tive algumas desilusões por causa disso. O resto das conclusões, tiram-nas vocês. :)

Não vou negar que gosto de ver pessoas com bom aspecto. Porque os olhos agradecem. E porque cuidar de si deve fazer sempre parte da vida das pessoas. O contrário também acontece. Há pessoas que não ligam minimamente à aparência. O excesso de confiança ou a falta de auto-estima podem causar isto. E as reacções de quem olha para nós fazem-se sempre sentir. Mais cedo ou mais tarde, de uma maneira ou de outra.

Os conceitos de beleza interior e exterior estão intimamente ligados com a personalidade de cada um. Com a capacidade de ver com o coração. Quem não tem esta capacidade sofre de futilidade. Lamento. E rodeia-se de pessoas que podem ser muito bonitas...e muito feitas ao mesmo tempo.

Gosto de pessoas que sabem estar, que sejam inteligentes e tenham sentido de humor. Que façam conversas agradáveis. Não têm necessariamente de ser complicadas. Mas agradáveis e com nexo. Se tiverem bom aspecto, melhor ainda. Mas Deus me livre de descartar pessoas menos bonitas exteriormente baseado apenas no aspecto.

Ao falar disto, é obrigatório ter em conta um dimensão: a hipocrisia das pessoas. Acho horrível quando alguém diz que gosta de beleza interior e depois, pelas atitudes, revela precisamente o contrário. Não digo que seja uma postura criminosa. Mas pode magoar. 

Outra dimensão que se deve ter em conta é os sentimentos de quem olha. A célebre resposta "são os teus olhos" é muito verdadeira, mas incompleta. O que deveria mesmo dizer-se era "é o teu coração".

Achar alguém bonito implica ver com o coração. Porque os olhos servem apenas para olhar. Mas VER... isso não é para todos.

Beijos & Abraços,

MP

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Do Arrependimento

Caríssimos,

Falei brevemente sobre arrependimentos num dos meus textos anteriores. Hoje decidi escrever um bocadinho mais. Tenham paciência... :)

Continuo a defender que não devemos arrepender-nos de nada. Nem do que fizemos nem do que não fizemos. A Vida é uma série de acontecimentos. E não pára (a não ser que chegue ao fim). À parte os acontecimentos (pouco) aleatórios, temos controlo sobre a maior parte dos outros. Ou seja, aliado à sucessão de acontecimentos, há uma sucessão de decisões que somos forçados a tomar, consciente ou inconscientemente. Umas são simples, outras nem por isso. Mas todas resultam em alguma coisa. Todas têm efeitos na nossa vida e nos acontecimentos futuros.

Para mim, o arrependimento é uma espécie de desespero. Talvez por isso me esforce tanto por tomar decisões acertadas. Para não me arrepender. E tenho a capacidade normal de aguentar e viver com as decisões que tomo. Mesmo quando me espalho ao comprido.

Arrependo-me de ter vendido a minha mota. Mas não me arrependo de mais nada. Para mim, a expressão "se o arrependimento matasse" é desnecessária. É desculpa de mau pagador. Considero que há dois tipos de arrependimento: daquilo que se fez e daquilo que não se fez. Acho que o segundo é pior do que o primeiro.

Arrependermo-nos de alguma(s) coisa(s) que fizemos é chato. É aquela sensação (inútil) de querermos voltar atrás e fazer de forma diferente. Como tal não é possível, vamos em frente. E aprendemos. Sabemos que não repetimos a asneira. Ou então repetimo-la, mas de forma ligeiramente diferente. A esperança traz estas coisas. A palavra chave aqui é aprender. E daí até o arrependimento passar é um passo.

Mas arrependermo-nos do que não fizemos... Isso já é uma história completamente diferente. Isso é que é pior. Aí o arrependimento é uma espécie de morte lenta e agonizante. Reparem nas coisas que nos passam ao lado quando decidimos conscientemente (ou não!) não fazer alguma coisa. Nos casos mais leves, podíamo-nos ter divertido imenso. Podíamos ter ganho mais dinheiro. Podíamos ter feito um projecto verdadeiramente aliciante. Nos casos mais graves... podemos mesmo passar ao lado de felicidade plena, e momentos únicos de convivência. Da quase perfeição. E podemos até passar ao lado daquela pessoa que foi feita para nós. Que cuidaria de nós, que nos levaria "nas palmas das mãos" até o fim. Intenso, não é? Ou seja, não houve tentativa. E pior: não houve aprendizagem. Há... vazio.

É claro que não  fazer alguma coisa não precisa necessariamente de ser um arrependimento. Quando o que temos já é bom, dá jeito olhar para a nossa vida e ver todas as coisas boas que temos. Procurar nelas conforto e absolvição. Eventualmente tudo passa. E a harmonia volta. Até podemos olhar para trás e rir da situação. Mas o riso, misturado com arrependimento, torna-se nostálgico. E facilmente se transforma em lágrimas calmas.

Mas atenção: nada está perdido. A vida dá-nos, de vez em quando, uma segunda oportunidade em relação à mesma situação. É raro mas acontece. E pode ser que, dessa vez, valha a pena.

Por isso, a ideia que vos deixo é sempre a mesma: vivam. Enganem-se. Façam asneiras. Respirem mais. Caiam. Levantem-se. Chorem. Revoltem-se. Mas NUNCA se arrependam.

Beijos & Abraços,

MP

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Do Sexto Sentido (ou Da Intuição)... Ou Como Quiserem Chamar

"Eu sabia". "Eu parece que adivinhei". "Estou com um feeling". "Isto vai dar asneira". Soa-vos familiar? Pois é...

Há quem pense que este tipo de abordagem é uma espécie de premonição. Uma espécie de dom que algumas pessoas têm. Olhem que não é! :)

Acho que a capacidade de prever ou adivinhar desfechos, vem essencialmente das vivências que temos e da experiência passada. Ao passarmos, depois, por situações semelhantes, já temos a noção de como as coisas vão acabar. Já podemos até dizer "isto vai dar asneira". Ou não...

Ou por vezes, mesmo que nunca tenhamos passado por coisas parecidas, há atitudes e palavras (ou a ausência de uma e de outra) que nos levam a chegar a conclusões que, normalmente, estão certas. Pode não ser por experiência. Mas é por raciocínio lógico.

Por trás disto está a capacidade de aprendizagem do ser humano. Só quem não aprende é que fica inocentemente à espera que, desta vez, seja diferente.  Ou então, como já escrevi em textos anteriores, decide conscientemente acreditar que "pode ser que seja diferente". Prefiro assim. Ou seja: aprendi, mas prefiro sempre acreditar na capacidade que as pessoas (na sua grande maioria) têm de, dadas as circunstâncias e os sentimentos certos, agirem de forma diferente. De arriscar. De dizer "deixa cá ver se faço isto funcionar". Quando assim não é, os desfechos são sempre iguais. E pior: são previsíveis por quem, de um forma ou de outra, já os viveu.

A capacidade se se superar e surpreender burros velhos é cada vez menor. Agora, toda a gente age como DEVE agir e não como QUER agir. E a possibilidade de prever acontecimentos e consequências vem precisamente disso: da normalidade e da previsibilidade humana. Do conformismo, do conforto... do fácil.

Portanto, sexto sentido (ou intuição) não é magia. Faz parte da condição Humana. É lógico. É quase matemático. É fácil. :)

Beijos & Abraços,

MP

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Do Meu Blog

Meus Caros,

Gostaria de esclarecer uma coisa: os textos que aqui publico são sobre assuntos dos quais me apetece escrever. Escrevo quando me apetece, sobre o que me apetece e da maneira que me apetece.

Quando escrevo sobre o Amor, não é porque estou apaixonado. É porque me deu na cabeça.

Quando escrevo sobre Filmes, não é porque fui ao cinema. É porque quero.

Escrever é, para mim, uma espécie de catarse. Sinto-me bem quando o faço e ajuda-me a por ideias em ordem. Se a Internet me dá a hipótese de partilhar convosco o que escrevo, tanto melhor.

Não é minha intenção ensinar nem atingir ninguém em particular. A vontade e apenas de partilhar.

É claro que ha vivências que influenciam este ou aquele texto. Mas não provocam nada.

Assim sendo, são sempre bem-vindos a ler e a comentar. Gosto de vos ter por aqui.

Beijos & Abraços.

MP

Das Coisas Que (não) Se Dizem

Caríssimos,

Há coisas que não se dizem. Por mais verdade que sejam. Ou porque podem não ser verdade. Uma boca que diz alguma coisa pode, logo a seguir, arrepender-se pedir desculpa. Mas os ouvidos que a ouvem... raramente esquecem. Estou obviamente a falar de coisas fortes.

Eu posso achar que o casaco de uma pessoa é feio. Mas não devo dizer assim, à papo-seco. Corro o risco de deixar de ser apenas frontal e passar a ser rude e mal-educado. Os sentimentos de quem nos ouve devem ser sempre tidos em conta. Embora, por vezes, seja libertador dizer coisas da boca pra fora que, muitas vezes, nem sentimos.

Mas aqui importa distinguir entre o tipo de coisa que se diz. Há coisas más que magoam. É quase cruel dizê-las sem preparação. Sem adocicar a coisa antes de vir a parte amarga. Quem tem prazer em dizer coisas que sabe que vão magoar, não pode ser boa pessoa. Já apanhei pessoas assim. E passam uma imagem de crueldade e de maldade pura, que às vezes até se nota nos olhos. Não ter em conta o que pode estar por trás de uma cara, os sentimentos e vivências que lá andam, é desumano e irresponsável.

E até quando dizemos coisas boas (ou muito boas) corremos o risco de estar a ser inconsequentes. Por dois motivos: é importante termos a certeza do que estamos a dizer; e o efeito na outra pessoa pode ser, numa primeira fase, muito bom. Mas, se fomos irresponsáveis ao dizer coisas boas que sentimos (ou ao prometer alguma coisa), podemos depois ter que deitar um balde de água fria em alguém que, se formos a ver, não teve culpa nenhuma. E até tinha as expectativas realistas até o irmos incomodar.

Mais uma vez defendo o equilíbrio e a ponderação. Se vamos dizer alguma coisa má, pensamos primeiro. Se vale a pena dizer, se é realmente assim tão grave, se temos mesmo razão. Depois de feita esta reflexão, pensamos então em formas de dizer. À bruta magoa e causa discussões evitáveis. Com algum cuidado, não somos menos firmes no que temos a dizer, mas demonstramos preocupação, respeito e consciência.

Quando o que temos a dizer é bom, a coisa pode ser ainda mais grave. No meio de situações em que sentimentos estão exacerbados, é fácil dizer coisas inconsequentes. Por exemplo: "estou apaixonado", ou "gosto de ti", ou "vamos trabalhar juntos", ou "vou dar-te um aumento". As coisas boas que se dizem criam expectativas. E trazem esperança a quem ouve. São viciantes e contagiosas! :) Assim, devemos fazer o mesmo exercício e ir buscar o equilíbrio. Pensar primeiro se sentimos o que dissemos. Ou se podemos cumprir o que prometemos. Se assim for, força! Que se diga. As coisas boas são sempre bem-vindas. Se assim não for, que se amadureça ideias. Que se leve o tempo que for preciso. Mas não sejam inconsequentes. Não andem para a frente e para trás.

Uma das coisas mais difíceis de recuperar é a confiança de uma pessoa. E, depois do mal estar feito, há sempre formas de corrigir. Não são nunca ideais, mas têm de ser feitas. Não vale a pena pensar "se eu não falar mais nisto, pode ser que ela(e) se esqueça". Magoa, destrói e revolta. Portanto: sejam adultos e responsáveis. Quando se tem de andar para trás, que se ande de forma recta, honesta, inequívoca e humilde. Ainda pode ser que se salve alguma coisa.

Mas o ideal é não sermos inconsequentes. Tenho um Director (e Amigo) que diz "não é o que se diz. É como se diz". E eu acrescento: há coisas que, não sendo reais e constantes, mais vale não dizer.

Beijos & Abraços,

MP

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Do Destino

Alguém aqui acredita no destino? Que já está tudo traçado? Que as curvas e contra-curvas da Vida já estão definidas à partida? Que não temos mão no que nos acontece?

Devo dizer que a ideia de destino é confortável. Que, façamos o que façamos ou sintamos o que sintamos, a coisa já está resolvida à partida. Para o bem ou para o mal. Por outro lado torna tudo um bocado desinteressante...

Acredito que nada acontece por acaso. Que até as coisas inesperadas têm uma razão para acontecer. Se daí quiserem tirar uma espécie de noção de destino, estejam à vontade. E acho que é um bocado por aí.

Há quem diga que fazemos o nosso destino. Também concordo. Também acho que podemos guiar a nossa Vida para realizar isto ou aquilo. Que podemos fazer acontecer coisas. 

Mas não recuso a ideia do impensável. Do imprevisto. De que o Universo nos reserva alguma coisa. E de que somos muito tontos se não o ouvirmos. Se não lhe dermos hipótese. No fundo trata-se de nos deixarmos guiar, de vez em quando, por uma força que nem sabemos se existe. Dá jeito. Isenta-nos de algumas culpas e grandes raciocínios que se querem lógicos. Pois é: foi o destino! :)

O que, no fundo, quero dizer é que o equilíbrio entre acaso, destino e livre-arbítrio ajudam a definir uma Vida sem medo. Sem a pasmaceira e o torpor a que muitas vezes nos sujeitamos. Ouvindo o Universo, a cabeça e o coração.

Não acham que tem mais piada ser inconsequente de vez em quando? Eu acho. Porque afinal há coisas que fogem ao nosso controlo. Sejam acasos felizes, infelizes, pedaços de destino ou seja o que for. 

A decisão é sempre nossa. Porque o destino precisa de umas ajudas de vez em quando. :)

Beijos & Abraços,

MP

Do Lado Negro


Amiguinhos,

Tenho a ideia que toda a gente tem um lado negro. Um lado sombrio, com pouca luz. Que não precisa de ser mau. Mas que guarda tudo o que de triste, cinzento e negativo há em nós.

E acho que, quando melhor for alguém, pior será o seu lado negro. Conheço pessoas assim. Sempre os vi com boa onda, sem chatices, com uma capacidade de adaptação fora do comum... até um dia deixarem sair, por um motivo qualquer, o seu lado negro. Não é uma coisa bonita de se ver. E o que é pior é a surpresa que se sente...

Repito: lado negro não precisa de ser maldade. É claro que ela também existe. E, a fazer parte de alguma coisa, será do lado sombrio. Com maldade tenho dificuldade em lidar. Com o resto do "negrume", nem por isso.

Idealmente devemos abraçar o nosso lado escuro da mesma forma que abraçamos e aceitamos tudo o que temos de bom. É uma espécie de aceitação tácita que nos permite estar em paz, até nos momentos de escuridão. E não é só aceitar como inevitável. É aceitar como parte de nós. Como algo que também nos define. E que, em algumas alturas, até nos pode ajudar.

Mas deixem-no fluir. Quando aparecer, apareceu. Lidamos com ele e empurramo-lo gentilmente para de onde ele veio. Sem forçar. Forçar é pior. É um esforço muito grande e não resulta.

E o lado negro dos outros? A palavra chave aqui é respeito. É perceber que nem sempre as coisas, as palavras, as reacções podem ser boas. Há "bagagem" que vem com qualquer amizade. Com qualquer relação humana, seja ela qual for. Parece-me óbvio que não tenho de aturar lados negros de pessoas que não me dizem nada. Mas de quem gosto... aí não há volta a dar. Mais vele respeitar, aceitar, ajudar e, se for preciso, afastar-se até as nuvens passarem.

Acho que a plenitude das relações humanas atinge-se quando se entra no lado negro de alguém. E se aprende a viver lá, de forma harmoniosa. Acho até que o ideal é aprendermos a gostar do lado sombrio das pessoas de quem gostamos. Porque, se faz parte do pacote, mais vale gostar.

É difícil. E não é para todos. :)

Beijos & Abraços,

MP


domingo, 18 de agosto de 2013

Dos Agitadores

Amiguinhos,

Em todos os movimentos que envolvem mais do que uma pessoa, aparece um tipo de ente que tem como função desestabilizar as coisas e/ou incitar a situações mais radicais. Este tipo de ave rara é também conhecido pelo agitador.

São pessoas sem utilidade nenhuma. Pelo menos no que diz respeito à utilidade honesta, não servem para nada. Servirão eventualmente para ser instrumentos de causas (ou pessoas) menos nobres. Ou então agitam por maldade. Tanto um como outro, não me merecem respeito.

As causas e movimentos de cidadãos devem fluir. Devem acontecer de forma natural e respeitando a Lei e a integridade física de todos os intervenientes. Desrespeitar este processo, incitando à violência ou à maledicência gratuita é, para mim, um acto criminoso.

Posso dar-vos um exemplo: basta largar uma bomba (destas de fogo de artifício) a meio de um ajuntamento de pessoas para levar ao caos. A fugas em debandada, a pânicos e, nos casos piores, a que haja pessoas feridas, esmagadas ou mesmo espezinhadas até à morte. Resultado: pessoas no hospital, famílias de luto e... pela causa não se fez nada. E, mesmo que a causa tivesse saído fortalecida por estas situações, nada é para mim tão importante como salvaguardar a vida e a integridade física de quem lá está.

Pessoas que dizem mal ou incitam a situações extremas só para ver "o circo pegar fogo" deviam ser presas. Ou seja, mesmo que a intenção seja boa, se não houver motivo honesto, se não houver responsabilidade, deixam de ser parte da causa. E passam a ser marginais que prejudicam as causas e, honestamente, não têm lugar na sociedade em que vivem.

Conheço pessoas assim. Que aproveitam os ânimos exaltados, a insegurança dos outros e a confusão para satisfazer um qualquer desejo de provocar situações extremas. E se calhar depois ainda se riem. Ou, no mínimo, vão para casa com a consciência tranquila. Se não têm consciência do mal que podem causar, são uns tristes. Se têm essa consciência, são maus. E com esses não quero ter nada a ver.

Mais um exemplo: em 1993 eu estive numa manifestação à frente da Assembleia da República. Estava no Ensino Superior e a manifestação versava o aumento das propinas e a reforma da política educativa que se operou na altura. O Corpo de Intervenção da PSP chegou. A coisa continuou de forma pacífica (com as palavras de ordem do costume) até... haver meia dúzia de idiotas que começaram a atirar latas e pedras à polícia. Resultado: carga! Cacetada a torto e a direito, sangue, gente presa... porque a ordem era "não fica ninguém na Praça de São Bento". Eu próprio levei umas bastonadas por causa dos agitadores. Os Polícias estavam a seguir ordens. Os agitadores... se calhar estavam bêbados ou aborrecidos. Não sei.

Existem formas decentes, correctas e eficazes de agitar. Seguindo a Lei e os princípios básicos da decência Humana. Tudo o resto é maldade, criancice, inconsequência  e desrespeito.

E quando se agita só para ver o que vai dar... Nem sei qualificar...

Beijos & Abraços,

MP


sábado, 17 de agosto de 2013

Da Boa Disposição


Ainda há dias havia alguém que me dizia: "tenta ser menos brincalhão. É que depois as pessoas não te levam a sério". Confesso que nem sei o que pensar sobre isto. Nem sei o que responder a estes entes. Será que têm razão?

Sempre brinquei com tudo. Todas as situações, por mais macabras que sejam, têm um lado leve. Ou engraçado. E isso não depende da situação em si. Depende essencialmente das mentes que a encaram. E da vontade de ser positivo e leve que os intervenientes possam ter. Por mais que nos custe brincar com certas coisas, a verdade é que assim ajudamo-nos a superá-las. E a aprender com elas.

Não me canso de dizer que a vida é um processo constante de aprendizagem. E isto não é demagogia. É assim mesmo. Tirar o melhor de todas as situações é uma arte. Uma arte que tento aperfeiçoar e dominar. Nem sempre é fácil. Mas com lágrimas e reflexões longas e sérias, fica mais difícil. Porque nos deixamos dominar pelo lado negro. E aí é o descalabro. Sei do que falo.

Sou brincalhão, mordaz, atento e (de acordo com algumas mentes brilhantes) demasiado "leve". Agora que já se riram todos por as palavras "eu" e "leve" estarem na mesma frase, passo a explicar. :) Encarar as coisas com a seriedade que elas merecem, não é sinónimo de ser cinzento ou sisudo. É aplicar doses de raciocínio assertivo nos momentos chave. É claro que, se todos os intervenientes estiverem virado para o cinzentismo, o "bem-disposto" de serviço passa a ser o palhacinho que ninguém leva a sério. O incapaz. O irresponsável.

Não podiam estar mais longe da verdade. Não é porque brinco com as coisas que deixo de pensar nelas de forma séria. Acima de tudo no que ao trabalho diz respeito. Uma conversa pode ser divertida. Mas os afazeres que dela resultarem têm de ser levados com seriedade e profissionalismo. Para depois podermos brincar novamente com o desfecho. A verdade é que, com boa disposição e muita gargalhada pelo meio, consegui levar a cabo operações difíceis, com o sucesso que elas tiveram. Não digo que, com pulso forte, não as conseguisse fazer na mesma. Mas não é a minha maneira de fazer as coisas.

A coisa fica negra quando confundem a minha boa disposição e simpatia com fraqueza. Aí apercebem-se (mais cedo do que mais tarde) que a força que uso para levar tudo com alegria e boa disposição, pode ser usada também para corrigir arrogâncias, faltas de profissionalismo, abusos de confiança ou seja o que for. É simples: a consciência limpa está do meu lado. Porque tentei a bem. Uma, duas ou três vezes. Depois disso, não é para tentar. É para conseguir, seja como for.

No que a mim diz respeito, há outro chavão que devem esquecer: os gordinhos são sempre bem dispostos. Não são nada. Para já, não sou gordinho. Sou gordo. Com todas as complicações ao nível da saúde que isso traz. E um dos sintomas não é, seguramente, ser bem-disposto. 

Ser brincalhão, positivo, leve ou bem-disposto, não está associado ao tamanho. Nem está associado a nada muito óbvio. É uma forma de estar. De ser. É um estado de alma. Cultivem-na. :)

Beijos & Abraços,

MP


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Da Infância


Amiguinhos,

Quem teve a paciência de ler o meu texto sobre a Inocência, vai encontrar neste algumas coisas em comum. Mas a Infância, por para mim ter sido tão importante, não deixa de ter um papel muito importante na minha vida.

Acho que não há ningém que pense verdadeiramente que a infância "foi o que foi, mas já passou". Reparem que passamos os primeiros anos da nossa vida a desejar "ser grandes". E depois passamos o resto da vida a recordar com alguma nostalgia esses mesmos anos. É estranho e é não é consesnsual. Mas nós somos assim mesmo. E penso que até as pessoas que tiveram uma infância (dita) triste, se recordam das coisas boas desse tempo.

As infâncias más e problemáticas são, para mim, quase criminosas. Eu explico: cabe aos adultos responsáveis não deixar que as suas crianças (ou seja que criança for) sofram além do que é absolutamente necessário. É claro que é desde pequenino que começamos a aprender que a a vida, apesar de ser um mar de rosas, tem uns espinhos chatos pelo meio. Mas isso faz parte. Por outro lado, manda o bom senso que poupemos as nossas crianças a sofrimentos desnecessários. A pressões constantes, a noites mal dormidas, a stresses inadequados à idade e a dificuldades sérias.

Atenção: ser atencioso e responsável não é ser permissivo. A disciplina e a educação (mais ou menos) rigorosa e baseada em princípios sólidos, acabam por criar adultos com tendência para o equilíbrio. E, a partir de uma certa idade, a responsabilização pelos actos errados e a punição pelos mesmos, é salutar e recomenda-se. E ser responsável é também saber quando por o coração no frigorífico e fazer má cara, levantar a voz e aplicar castigos. O contrário é sempre mais fácil. Mas vai trazer consequências chatas. Por mais tarde que elas surjam.

É importante aqui realçar que não concordo que se tomem decisões só "por causa dos miúdos". Por mais amor que se tenha a uma criança, não deve manter-se um casamento ou uma relação para poupá-la a situações chatas. Um adulto responsável é isso mesmo: responsável. Mas não deve (nem pode) ser mártir. Nem pode perder a identidade. Porque, se assim for, as crianças notam. E acabam por sofrer de forma diferente. A solução aqui é ser suficientemente equilibrado para não deixar os miúdos saírem beliscados por situações criadas por nós. Porque eles não têm culpa nenhuma. A serenidade e a contenção são, aqui, essenciais.

Ser adulto é, necessariamente, uma consequência de já ter sido criança. De já ter passado por uma infância. E as relações com os adultos na infância vão (de forma mais ou menos marcada) definir as relações entre adultos. E, quanto a isso, não há volta a dar.

Como vocês devem saber, não gosto muito de falar de casos extremos. Mas eles também existem. Uma infância demasiado triste e desgraçada vai, seguramente, produzir um adulto problemático. Mesmo que este se "endireite", as mazelas internas ficam. Uma infância sem qualquer tipo de problema, castigo ou responsabilização, produz um adulto inconsequente e pouco preparado. E, a médio/ longo prazo, infeliz.

Não sou especialista no assunto. Nem pouco mais ou menos. Mas o senso comum e as vivências levam-me a chegar a estas conclusões de forma relativamente fácil.

Lembrem-se: fazer crianças felizes é trabalho difícil. Mas não é nada que não se faça. Perguntem aos meus Pais e aos meus Irmãos. :)

Beijos & Abraços,

MP

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Da Música


Meus Caros,

Aviso-vos desde já que este texto corre o sério risco de ser incompleto. Se vos fosse a transmitir tudo o que penso e sinto sobre a Música, nunca mais saíamos daqui. E se, por acaso, isto se tornar numa verborreia interminável, peço-vos desde já desculpa. E têm sempre a possibilidade de não ler. :)

Nunca aprendi a ler bolas e tracinhos (entenda-se notas musicais). É claro que tenho algumas noções: devem dar para ler o Parabéns a Você e pouco mais! Devo confessar que já me fez falta. Hoje em dia já não. Porque, quando as coisas se tornaram mais exigentes tecnicamente, tive de arranjar maneiras alternativas de estar à altura dos meus colegas leitores. E arranjei. Com trabalho, audição, repetição e disciplina. Mas arranjei.

O resultado de se fazer Música por amor e com amor é delicioso. Porque tudo sai como se fosse uma obra prima construída no coração. Com a ajuda dos ouvidos, mas construída no coração. E, na essência, é isso que a Música significa para mim: Amor. Não há outro como este. Vive-se, respira-se, come-se, bebe-se, sente-se e transpira-se Música. E, sem ela, não tenho nenhum problema em admitir que prefiro nem estar aqui.

A Música esteve ao meu lado desde sempre. As pessoas passaram. Mas a Música ficou sempre. E nunca me deixa ficar mal. E acompanha-me, atura-me, acalma-me. Faz-me feliz. Faz-me completo. E olhem que, com o meu tamanho, é preciso muito para ficar completo. :)

Foi sempre nos palcos que fui mais feliz. Ou em estúdio. Ou em qualquer sítio onde houvesse Música. A emoção que sinto quando canto ou quando ouço um tema verdadeiramente bonito é indescritível. Por isso não vou tentar sequer descrevê-la. Desculpem. Mas, por melhor que eu tente escrever, a descrição ficaria sempre aquém.

E acho que sou uma pessoa melhor por causa da Música. Por ela ser a minha vida. É que todas as situações se podem pensar e sentir tendo em conta um tema qualquer. Há sempre uma canção que se adapta a seja o que for. Assim, por associação ou por comparação, vou guiando pensamentos, atitudes ou resoluções com Música no coração. Acreditem que não há melhor companhia, melhor conselheira. Melhor Amiga.

As pessoas têm falhas. Todas. E, por sermos limitados (como seres Humanos que somos), não conseguimos adaptar-nos a tudo o que nos aparece.. Mas a Música... é tão diversa, tão abrangente, tão compreensiva, que nos ajuda a nós (seres imperfeitos) a olhar melhor, a ouvir melhor e a sentir melhor.

E quando sabemos usá-la, tocá-la ou cantá-la, melhor ainda! É a cereja no topo do bolo. E ela deixa-se usar. Permite voltas, interpretações, remodelações. Para se adaptar a nós. Sem queixas, sem pressas, sem compromisso.

Já perdi a conta ao número de vezes que me refugiei na Música. Aqui, a profissão que escolhi ajuda-me. Poder descarregar a alma enquanto se trabalha é lindo. E é único.

Até a  disciplina a que a minha profissão obriga é salutar. Porque a matéria prima é boa e moldável. E porque, se o sentimento for o certo e houver honestidade para com o que se faz, até as dificuldades e os momentos desesperantes se tornam bons. É claro que também há dificuldades e momentos mais tensos. Mas são tão poucos que nem valem a pena mencionar.

Uma das minhas frases preferidas sobre Música foi dita pelo Actor Júlio César, no concerto Canções do Século, concebido pelo Maestro Pedro Osório e cantado pelas cantoras Lena D'Água, Helena Vieira e Rita Guerra. Dizia assim: "A Música, bendita seja, que até hoje teima em fazer-nos felizes".

Havia tantas músicas que podia pôr a acompanhar este texto. E todas falam de Música. Ou têm "Música" no nome. Mas decidi dedicar eu uma música à Música. Esta é uma das canções da minha vida. Dedico-a a todas as pessoas de quem gosto. Mas hoje, vai para aquela que numa me abandonou e sempre me abraçou: a Música! :)

Estou a adorar escrever este texto. Mas tenho de ir porque está quase na minha hora de cantar. Assim sendo, não tenho pena nenhuma! :)

Beijos & Abraços,

MP

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Dos Silêncios

Olá a Todos.

Os silencios são, maioritariamente, incómodos. Adoro silêncio. Mas quando quero.

Pensarão vocês: como é que um Músico/ Locutor gosta de silêncio? Precisamente por isso. O silêncio escolhido é revigorante para quem passa a vida a fazer barulho. :)

Curiosamente, trabalho (e penso) melhor em silêncio. Porque me ouço. A mim. Sem interferência e sem ruído. Estou mais em contacto com a alma, com o coração. Com a minha realidade. E não façam confusão: estar em contacto com a sua realidade (mesmo que peque por incompleta) é necessário e é bom. Porque, no fim de contas, é connosco que temos de resolver seja o que for. É connosco que temos de brigar. E é a nós próprios que repreendemos ou louvamos. Em silêncio.

Mas o silencio imposto ou constrangedor incomoda-me. Aqueles momentos em que uma conversa pára de repente. Em que, logo depois de uma frase infeliz, a malta quase se encolhe e deseja ter um buraquinho (por mais pequeno que seja) para se esconder.

O silencio conveniente é castrante. "Não vou dizer nada para não estragar tudo...". Bah! não gosto mesmo nada. Ou quando estamos a falar com alguém e sentimos um silêncio forçado, para não comprometer ou para não desenvolver muito qualquer assunto. Aqui as coisas deixam de fluir. E quando não flui torna-se forçado. E quando é forçado, não é natural. E quando não é natural... eu não gosto.

Quando há silencios prolongados e impostos, aí tem de haver razão. E a razão tem de ser boa. Não gosto que, por dá cá aquela palha ou de forma unilateral, se cortem relações, conversas ou seja o que for. Se o motivo for insuficiente, é uma parvoíce. Da qual, normalmente, nos arrependemos. Se a decisão for unilateral, pouco mais podemos fazer do que aceitar. Mas ninguém nos obriga a gostar.

Gosto de falar, de conversar, de me dar com pessoas. Acho que conviver faz parte da existência. E silêncio em demasia atrofia-me o cérebro.

Só aceito silencios impostos quando a intenção é resolver internamente problemas que, só cortando contactos, se podem resolver. Porque a intenção é boa. Mesmo que o desfecho não seja o esperado.

Aí até espero... em silêncio.

Beijos & Abraços,

MP

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Da Contenção

Amiguinhos,

Penso que a contenção é uma das coisas mais difíceis que existem. O próprio acto de conter, de ser obrigado a não dizer (ou não fazer) alguma coisa é, por vezes, desesperante. Mas tem vantagens. Sendo que a maior delas é poupar-nos a chatices.

Nunca tive um feitio muito calmo. As faltas de educação e as injustiças irritam-me de uma forma profunda, quase visceral. E já perdi a conta ao número de vezes que me apeteceu encher alguém de pancada (ou então tornar-lhe a vida muito difícil), por causa de afrontas, desrespeitos, faltas de educação, insultos ou mesmo de maldade pura.

Mas contive-me. Eventualmente, com o tempo e com muita calma, disse o que tinha para dizer de forma calma e assertiva. É claro que os anos tronam a capacidade de contenção mais apurada e até mais fácil. Tornam-nos mais dóceis e tolerantes perante situações que, uns anos antes, eram um Deus nos acuda.

E reparem na quantidade de situações desagradáveis que a contenção nos evita. Levantar a voz pode conduzir a rupturas desagradáveis e desnecessárias. Andar ao estalo, além de ser degradante, pode trazer consequências legais chatas. E tomar atitudes cabeça quente faz-nos correr o risco de errar de forma redonda. E a maior parte das coisas que se dizem e fazem são muito difíceis de desfazer. As pessoas até perdoam. Mas raramente esquecem.

Ser contido revela uma ponderação e um equilíbrio que, como sabem, defendo. Mas, levado a extremos, faz-nos perder a identidade. E pode mesmo fazer-nos perder coisas boas.

Além das provocações e vicissitudes das relações humanas, também os deslumbres e desejos de coisas (e pessoas) boas podem trazer-nos uma obrigatoriedade de contenção. E aqui fica mais difícil. Tomar a decisão (mais ou menos consciente) de não dizer (ou não fazer) alguma coisa que uma parte de nós considera justa, agradável e boa, é tão desesperante como difícil de decidir. E viver com essa contenção ainda é pior. Porque a dúvida está lá. A pergunta constante é: e se resultasse? E se estou a cometer um erro tremendo? Isto é, para mim, a coisa mais difícil de racionalizar.

No que diz respeito a sentimentos e a coisas (e pessoas) boas, contenho-me muito pouco. Se há alguma coisa que vale a pena fazer, faço-a. Se há alguém que vale a pena, procuro. Ponho a contenção no frigorífico e vou em frente. 

E aconselho-vos ao mesmo. Se não vos apetecer mesmo nada conter-vos, não se contenham. Vão atrás, procurem, explorem. Sintam. Ajam. 

Deixo-vos hoje um tema cantado por mim. "Água de Beber" não é só uma bossa nova gira. É uma espécie de hino à naturalidade e a estar aberto às coisas boas que a vida nos pode trazer. Senão vejamos: "Eu quis amar/ Mas tive medo/ E quis salvar meu coração/ Mas do amor sabe um segredo/ O medo pode matar o seu coração". Simples e verdadeiro. :)

Arrependi-me de muito poucas coisas que não fiz na vida. Mas as poucas de que me arrependo, acompanham-me sempre. E lembro-me delas. E penso sempre: preferia mil vezes arrepender-me de ter feito do que de não ter feito. O motivo é simples: é porque não dei hipóteses a coisas que poderiam ter sido muito boas. Algumas delas difíceis. Mas, na essência, boas.

Beijos & Abraços (sem contenção), :)

MP


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Dos Irreverentes

Olá Amiguinhos!

Por força do meio onde estou inserido, tenho lidado ao longo dos anos com alguns Irreverentes. Além disso, convivo com a quantidade normal de irreverentes que aparecem sempre na sociedade. 

A irreverência é útil. E é salutar. Muda tempos, maneiras de fazer as coisas e desperta mentaliddades para realidades desconhecidas (ou não). Ou então consegue espicaçar quem de direito para uma evolução que, de outra forma, seria mais lenta.

Acho que a irreverência deve ser sempre acompanhada de responsabilidade. Falo, como é óbvio, da irreverência consciente. Daquela que é "usada" para fins maiores, com a tal intenção (ainda que possa ser solitária), de mudar mentalidades. Os irreverentes inconscientes são, no mínimo, inofensivos. Na maior parte das vezes, incómodos. No máximo são inconvenientes, inconsequentes e mal-educados. Uma espécie de menino mimado que "é diferente, por ser diferente". Não serve de nada. A não ser para sentir-se bem consigo próprio ou para alimentar um ego inchado.

Conheço muita gente que é mestre na arte da irreverência consciente. Que age de forma diferente dos padrões normais. E que, ouvida e vista pelas pessoas certas, surte efeitos, na maior parte das vezes, bons. E a tal consciência chega quando nos apercebemos que a irreverência demonstrada...  resulta. E que os resultados são evolutivos.

Em tudo na vida, o equilíbrio é a chave para uma existência intensa mas ponderada e calma. Sem problemas de consciência. É no equilíbrio entre irreverência e responsabilidade que se encontram estes Irreverentes Conscientes. Porque sabem quando usar a irreverência, como usá-la e, acima de tudo, sabem e sentem a responsabilidade de, depois, levar a bom porto as ideias lançadas. Além disso, sabem quando a influência exercida pode acusar efeitos nefastos. Então, retraem-se.

Porque irreverência consciente e responsável é sempre bem-vinda. Tudo o resto é falta de educação.

Beijos & Abraços.

MP 

sábado, 10 de agosto de 2013

Do Fim


Caríssimos,

Quando alguma coisa chega ao fim, há sempre dois lados: um bom e um mau. Vamos partir do princípio que só vale a pena reflectir sobre o fim das coisas boas (ou das coisas que poderiam eventualmente ser boas). Porque o fim das coisas más é um alívio. Assim sendo, fica resolvido. :)

A noção de que alguma coisa acabou (seja uma relação profissional ou pessoal) traz sempre sentimentos que podem, à partida, parecer confusos. Mas, depois do período de "luto" que se deve fazer quando acaba seja o que for, as coisas tornam -se mais claras. E mesmo mais risonhas. O fim de alguma coisa traz sempre a possibilidade do começo de outras. Melhores ou piores, não interessa. Mas, para mim, os começos são sempre bons. Porque a possibilidade de um desfecho agradável volta a estar presente na cabeça (e no coração) das pessoas.

Além disso, temos de ter sempre em conta uma coisa: há muitos fins com carácter provisório. :) É mesmo assim. Porque os começos que se seguem podem, novamente, versar o mesmo assunto. A mesma pessoa. O mesmo objecto.

A ideia de finais e começos consecutivos traz à vida uma cor diferente. Parece aquelas séries que dava na televisão, com finais alternativos. Podíamos sempre escolher o desfecho. E, embora pareça difícil à partida, a verdade é que se torna aliciante. Traz aquela pitadinha de sal que todas as vidas têm de ter.

Não vou com isto dizer que encaro todos os finais com naturalidade. Há sempre períodos de "luto" que, para mantermos alguma sanidade mental, devemos respeitar. A ideia do "rei morto, rei posto" só funciona em alguns filmes. E, mesmo assim, são filmes com um argumento duvidoso.

A música que vos deixo hoje é, novamente, simples. O restolho da Mafalda Veiga fala de um "morrer e nascer de novo" que é, nestas coisas, essencial.

Boa audição. Amanhã não escrevo.

Nota final: deixar acabar coisas antes de começar é que não. Até porque qualquer fim implica um começo...

FIM. Ou não... ;)

Beijos & Abraços,

MP


Das Desilusões


Amiguinhos,

Se há coisas que me entristecem, são as desilusões. Grandes, pequenas, médias, inesperadas, esperadas... Todas. Revoltam-me, irritam-me e, nos casos extremos, deitam-me abaixo. Não é por muito tempo. Mas deitam-me abaixo. 

Acho que o pior pensamento que me assalta depois das desilusões é sempre o "mas porque é acreditaste? Já não tens idade para ser imune a estas coisas?". E depois chego à conclusão que não. Na maioria dos casos a culpa não é minha. Prefiro acreditar nas coisas e nas pessoas. E se não valia a pena acreditar, lamento. Mas o positivo fui eu. Acreditei, quis acreditar e agi de boa fé. Se me desiludem é porque alguém se portou mal (ou alguma coisa correu mal). Mais nada.

É claro que a "capa" da maturidade (muita ou pouca) já me devia proteger de alguns dissabores. Mas como a capa é minha, uso-a quando quero. E prefiro andar pela vida sem capa. Ou seja, há uma espécie de abertura consciente a novas desilusões. É estranho e até paradoxal. Não tenho nada de masoquista, asseguro-vos. Mas tornar-me ermita também não dá. :)

Pensarão vocês: mas que rapazinho mais crente e esperançado. É. Se calhar até sou. Os meus posts aqui no blog andam sempre à volta disso. Mas prefiro assim. 

Tenho para mim que a última coisa que se deve perder na vida é a alegria de viver. Aquela ideia (ingénua) de que, se quisermos mesmo, podemos mudar o Mundo. Os desgraçados que pensam assim (e eu sou um deles) vão desiludir-se muito mais vezes do que os outros. Mas é com esses desgraçados que se faz a parte boa do Mundo...

A outra parte do Mundo é... normal. Não é melhor nem é pior. É normal.

Ficam aqui com uma Música do mestre Rui Veloso. Como estas coisas das desilusões trazem sempre ao de cima um lado escuro de quem as sente, este tema traduz bem o meu lado escuro. Sim, também o tenho. A vantagem é que, como diz a letra, "hoje não me recomendo". Mas amanhã recomendo-me outra vez. Até não me recomendar outra vez. :)

Beijos & Abraços.

MP


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Das Esperas


Olá Amiguinhos.

Quem me conhece sabe que não gosto de esperar. Nem muito nem pouco. Não gosto. Quando há motivo, percebo, perdoo e até espero menos chateado. Mas gosto da atenção e do respeito que se tem quando se diz alguma coisa. Quando me contactam com uma justificação, a coisa resolve-se. Mesmo assim... Não gosto muito! :)

Há coisas (e pessoas) pelas quais vale a pena esperar. Notem que "valer a pena" não implica que eu goste. Mas, quando o objecto da espera é bom, então que seja. Seja uma pessoa que não vemos há algum tempo ou o instrumento novo que encomendámos e que esperamos ansiosamente que chegue.

A única maneira que tenho de esperar sem grande stress é... respirar fundo. E construir uma espécie de serenidade que me permite anular as ansiedades típicas da espera. Trata-se, portanto, de simplificar a coisa (onde é que eu já li isto? :)). Não sou anjinho, nem budista, nem tenho uma paciência ilimitada. Também tenho a minha dose de mau feitio. Mas a questão que se coloca é: stressar para quê? Stressar não encurta a espera. É, obviamente, mais fácil dizer (ou escrever) do que fazer. Mas tentar não custa. E até se consegue.

O inverso também se aplica. Detesto fazer pessoas esperar ou deixar para amanhã o que posso fazer hoje. E odeio ser responsável por causar ansiedades desnecessárias nas pessoas que, por minha causa, estão à espera de seja o que for. Ora, sendo a vida um sistema de compensações constantes, espero (e gosto) que tenham para comigo o mesmo respeito e a mesma deferência.

Tudo para (tentar) evitar desesperos. Porque o desespero é, seguramente, um dos piores estados de alma que já senti. Deixo-vos hoje uma canção do Zé Marinho, cantada pelo Beto, que fala precisamente disso. A envolvência da Música é claramente mais romântica. Mas mesmo assim, com um bocadinho de imaginação, aplica-se a (quase) tudo. Nota: tanto o Compositor como o Cantor eram meus Amigos e, infelizmente, já morreram. Além de ser uma canção linda de morrer, é talvez pelos motivos referidos, muito especial para mim.

Diz o ditado: quem espera sempre alcança. E digo eu: está bem! O alcançar é bom. O esperar, nem tanto. Mas quando o objectivo se justifica... Vamos nessa! :)

Beijos & Abraços,

MP


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Do Amor

Amiguinhos,

Esta deve ser a primeira vez que escrevo sobre o Amor. De forma isolada é de certeza. Ora vamos a isso! :)

O Amor é bom! O Amor só por si é lindo. Não há coisas más no sentimento em si. E é simples. Quem não percebe a simplicidade de um sentimento destes, precisa de meditar muito. :) Digo eu.

O que complica a coisa (e até pode trazer dissabores) é a gestão que fazemos do Amor. É toda a envolvência social e física. São as expectativas que se criam. É no, fundo, a nossa cabeça. Não há como evitar as complicações que um sentimento tão forte nos traz. Começa a haver ansiedade, ciuminho (ou ciumão), sentimentos de posse e aparecem inseguranças que rebentam com tudo. E é Humano que assim seja. 

Estamos programados para complicar e para sofrer. E tenho para mim que somos demasiado preguiçosos (ou incapazes) para descomplicar. Mas reparem na essência. Se for preciso voltem à essência do sentimento. Sejam as borboletas no estômago, a vontade de estar com, o gosto por tudo o que se faz, a paixão (duradoura) que se põe em cada minuto das coisas que fazemos. Ah! E não estou a falar só do Amor entre pessoas. Falo também do que sentimos pela nossa profissão, pelas coisas que gostamos. Pela Vida.

Escolhi uma profissão que me permite, entre outras coisas, falar de Amor. Transmitir e interpretar esse sentimento bom. E faço questão de colocar Amor em tudo o que faço na vida. Mesmo na resolução dos problemas. Mesmo nas coisas más que aparecem. Sou lamechas? Se calhar. Mas também sou positivo. E alegre. E a essência é essa mesmo: colorir tudo o mais possível.

Aprendi a viver com as consequências boas (e más... e complicadas) que a vivência de qualquer sentimento bonito nos traz. Com os baldes de água fria. Com as desilusões e com as brigas. Porque o saldo é claramente positivo. E se o saldo correr o risco de se tornar mais negativo: então que se ame. Que se ame mais! E se for para sofrer, que seja. Mas é por uma boa causa. Acreditem que tornar-se insensível e frio é bem pior. E fugir então, é a morte do artista. 

Não consigo conceber a Vida sem Amor. E não me venham com tretas do género "mas tens de ver que há vários tipos de Amor". Não há! Só há um tipo: o bom.

O Amor tem de ser mais forte do que nós. E é isso que diz a Música que hoje vos deixo. O Ricky Vallen (que, até esta música, me era desconhecido) cantou o Amor da forma mais simples que existe. E aplica-se a tanta coisa...

Porque o Amor, amiguinhos, é como esta música: simples e bonito. :)

Beijos & Abraços.

MP



quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Do Que Não Pode Ser


Olá Amiguinhos!

Clarificação: não gosto de ouvir (ou dizer) "não pode ser". A sério: incomoda-me. Não sou maluquinho e sei que há coisas que, por motivos vários, não se conseguem fazer. E às vezes é mais maluco e inconsequente quem acha que "tudo se faz". Costumo dizer que, em circunstâncias normais, tudo é possível: o projecto, a viagem, a relação... A asneira. :) O problema é que, na maioria das vezes, as circunstâncias estão longe de ser ideias: ou porque não dinheiro, ou porque não há tempo, ou porque as pessoas não são as indicadas. Ou então porque há muito a perder.

Antes de se dizer que não pode ser, devemos esgotar todas as possibilidades (nem que seja mentalmente). E devemos avaliar se vale a pena. É que, se não valer a pena, mais vale dizer "não quero que seja". Arruma-se logo o assunto e a consciência fica (mais ou menos) tranquila. 

Deixem-me que vos diga que, para mim, são poucas as coisas que, pura e simplesmente, não valem a pena. Qualquer ideia, situação, mudança, experiência deve ser, no mínimo, considerada. E quando há qualidade potencial ou sentimentos bons à mistura, é quase obrigatório considerar. E tentar. E trabalhar com afinco e capacidade de sofrimento para que não seja mais um "não pode ser".

Reparem que a perseverança está presente na maior parte dos meus textos. Longe de mim querer ser repetitivo. Mas notem que é mesmo isto: não tenho vontade de ter e viver coisas fáceis. Quero trabalhar, tentar, puxar e fazer acontecer as coisas. Os resultados são, naturalmente, incógnitas. A coisa pode correr bem ou pode correr mal. O que a coisa não pode é... não correr.

É claro que tudo isto funciona muito bem quando as coisas dependem só de mim. Quando há outras cabeças (ou corações) à mistura, fica mais difícil. Mesmo assim, a capacidade de persuasão faz parte do processo. :) Mas há situações às quais, claramente, não se aplica: não se pode (nem deve) persuadir ninguém a gostar disto ou daquilo. Ou desta ou daquela pessoa. Quando se entra de cabeça, que se entre com paixão, vontade, capacidade de trabalho e com um objectivo em mente. Porque se não, à primeira dificuldade que apareça, cai tudo por terra. E depois... Não pode ser.

Decidi deixar-vos mais uma musiquita hoje. Escolhi esta por causa de uma frase no refrão: "onde só chega quem não tem medo de naufragar". Ter "medo de naufragar" é o motivo pelo qual muita coisa "não pode ser". E fica pelo caminho.

Viver sem a possibilidade de um naufrágio desastroso não presta. Porque a alternativa é boa. E, mesmo que o objectivo não seja atingido... pelo menos a viagem foi inesquecível. :)

Beijos & Abraços,

MP




segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Dos Filmes da Minha Vida

Olá Amiguinhos.

Filmes. Hoje falo-vos de filmes. Os que marcaram a minha vida. As razões nem precisam de ser profundas, embora também as haja. A verdade é que sempre gostei de cinema. E da possibilidade de, numa qualquer realidade, algumas histórias que vi em filme, tornarem-se reais. 

É claro que também gosto de filmes de puro entretenimento. Os filmes de acção, os policiais, as comédias têm sempre o seu lugar. O objectivo de distrair é muito bem conseguido em muitos destes filmes. E a ideia é essa: distrair-me. Mais nada.

De filmes de animação também gosto. O Alladin, a Bela e o Monstro, o(s) Madagáscar(es), o Rei Leão... E o desgraçado do esquilo da Idade do Gelo. :) Gosto disto tudo. Pelas piadas, pela componente musical e pela envolvência da história.

Depois há aqueles filmes que me marcaram. O Clube Dos Poetas Mortos trouxe a noção de irreverência num sistema demasiado rígido. Trouxe a entrega de alguém ao sonho que tinha, ao que queria fazer da vida. E trouxe a revolta que a rigidez das mentalidades pequeninas e tacanhas provoca. 

Os Condenados de Shawshank impressionou-me essencialmente pela história, pela vivência crua e violenta da prisão e pela maneira brilhante de conduzir o argumento. E pela capacidade de superar tudo, com um sonho em mente. Resultado: vi o filme algumas 15 vezes.

O Mr. Holland's Opus - O Professor encheu-me as medidas. Fez-me olhar para a minha profissão e para os Músicos em geral de uma forma nova e diferente. Fez-me perceber que a capacidade de adaptação (numa primeira fase) e de gostar verdadeiramente do que faz (numa fase posterior), são meio caminho andado para uma vida grande e preenchida... Cheia de objectivos novos e nobres. Uma vida vivida, claramente, com amor. E eu não a quero de outra forma. :) Nota - penso que só o Richard Dreyfuss  conseguiria fazer este Mr. Holland.

Não sei se é por inerência da minha profissão ou por gosto mesmo, mas os filmes sobre Música (ou Músicos) têm um lugar muito especial na minha vida. Atenção: não são musicais! Neste capítulo, adorei o Les Miserables, mais pela interpretação da Anne Hathway do que por outra coisa qualquer. O Russell Crowe a cantar, por exemplo, dá-me vontade de rir. 

Mas os filmes sobre Música prendem-me sempre. O Ray, o Amadeus, o The Doors, o That Thing You Do, o Bird... Adoro. E quando a história é fiel e a música tocada é boa, melhor ainda. Este tipo de filme ainda me faz sonhar e, acima de tudo, faz-me lembrar vários dos motivos pelos quais escolhi ser Músico.

Hoje deixo-vos brinde: uma das músicas da minha vida, de um dos filmes da minha vida. Primeiro foi série, depois filme... Duas vezes. E reflectiu uma realidade da qual sempre gostei. E que gostava que estivesse mais perto de mim. Falo-vos do Fame que me apresentou uma realidade musical e artística fora do clássico habitual. E trouxe o bónus de retratar a dimensão humana daqueles artistas, daqueles alunos. Com problemas feios e tudo.

Se gostam desta música, ficam a saber que estão mais próximos de mim! :-D

http://youtu.be/i4mkRwkQRoQ

Agora já sabem: quando alguém disser que o Miguel Pires anda "a ver muitos filmes"... Muito provavelmente tem razão!

Beijos & Abraços,

MP

domingo, 4 de agosto de 2013

Da Inocência

Amiguinhos,

Quem é que tem saudades de tempos (e idades) de inocência? Eu tenho. Não de forma angustiante e doentia, mas tenho. Do tempo em que tudo era leve e inconsequente. Porque havia sempre alguém que resolvia as asneiras que fazíamos e minimizava  as consequências com comentários do género "não foi com maldade" ou "são coisas de miúdos". Em que os castigos eram umas palmadas ou "vai para o teu quarto". Em que tudo ficava resolvido de forma quase imediata. E em que ficávamos prontos para outra depois de umas lagrimazitas ou de amuarmos um bocado.

Era bom porque tudo era natural. Ríamos, chateávamo-nos, andávamos ao estalo e voltávamos ao normal num abrir e fechar de olhos... Naturalmente. Não havia "lutos" por coisas tontas e os padrões sociais e de comportamento aplicavam-se aos "grandes". Aos "adultos". Aos "chatos". :)

Até sentirmos na pele a primeira dose de crueldade fora do normal. Viesse ela em que formato viesse: num estalo dado com força desnecessária, numa conversa brutalmente honesta ou na responsabilização por um acto verdadeiramente grave. Ou na imposição de mudanças que não queríamos nem estávamos prontos para aceitar. Daquelas que nos faziam contrair os músculos todos do corpo, tamanha era a revolta. 

Tenho um amigo que diz que, até se perder a inocência, havia felicidade. A partir daí o que há são momentos de harmonia. E felizes são aqueles que conseguem contabilizar mais momentos desses. Por muito que me custe, sou obrigado a concordar.

Durante muito tempo (mais do que o normal) tentei manter e cultivar uma inocência duradoura e relativa que me permitia, digo eu, ser mais feliz. Mas depois vem a pancada. As desilusões. E a repetição mais do que frequente da expressão "parece que não aprendo".

Mas o ser humano tem uma capacidade de recuperação fora do normal. E então recupera. Procura sempre uma resolução interior que lhe permita ter uma paz mais ou menos duradoura. Um "seguir em frente" tranquilo. A mossa fica mas não precisa de doer todos os dias. :)

Há um truque interessante para se ter muitos dos tais "momentos de harmonia". Trata-de fazer uma coisa a que chamo "reset da inocência". Como se um computador se tratasse, reiniciamos os sentimentos de forma a acreditarmos novamente na bondade das pessoas, na ausência de sentimentos negativos. A capacidade de apagar (ainda que temporariamente) coisas más, é uma alegria. Porque senão, não há quem aguente. É bom ter a capacidade de re-injectar inocência na nossa vida. Uma vez. E outra. E as vezes que forem necessárias. Garanto-vos que serão felizes mais vezes. :) Pode não ser por muito tempo. Mas mais vezes, serão de certeza.

Não digo que devamos ser inconsequentes. A prudência tem sempre lugar na vida das pessoas. E evita chatices. Mas ser prudente não é viver com medo, nem num comodismo tonto que nos adormece e que nos tira, mais cedo ou mais tarde, a alegria de viver. 

Idealmente devemos ter sempre um bocadinho de nós que ainda mantém a inocência e a simplicidade de outros tempos. Uma espécie de reservatório que vamos usando quando a coisa fica mais negra. Porque esse reservatório é o que nos dá a capacidade de ver um lado bom em tudo. Por mais escuras que as coisas nos pareçam. E de ser perseverantes por mais negas que nos dêem. 

O bocadinho de inocência "recarregável" que ainda hoje mantenho, permite-se sempre acreditar de novo. E começar de novo. E fazer asneiras. E corrigi-las. E levantar-me.

E eu levanto-me. Sempre!! :)

Beijos & Abraços,

MP

sábado, 3 de agosto de 2013

Do Porto Santo

Amiguinhos,

Desde miúdo que venho ao Porto Santo todos os anos. Alguns anos, mais do que uma vez. Costumo dizer que há muito Portossantense que tem menos anos de vida do que eu de Porto Santo. :)
Esta sempre foi para mim uma Ilha de amores. Foi aqui que, em miúdo, me "apaixonei" várias vezes. Como  adolescente,  a tendência continuou. E foi aqui que, depois, conheci a minha Mulher. :) Como podem ver, esta Ilha, apesar de eu não ser um grande adepto de torrar horas ao Sol, sempre me deu coisas boas. Assim, sinto-me bem por cá. E mais: acho que, sentir-se mal nesta Ilha, pode tornar-se sufocante e desesperante. Mas hoje não me apetece falar disso.

Quem olhar para esta terra como "9km de praia e uma noite divertida para tomar copos", corre um risco sério de estar enganado. É que há (e houve) sempre muito mais no Porto Santo. Sou do tempo em que a rua do Zarco era uma loucura à noite, em que as caras conhecidas eram mais que muitas, em que a Fonte da Areia era o melhor sítio para se ir buscar água e em que se ia pescar ao Cais. Hoje em dia, a Quinta do Serrado é uma delícia, as lambecas continuam a fazer o mesmo sucesso de sempre, a comida está cada vez melhor e os fins de tarde continuam a ser frescos, apetecíveis e retemperadores. A animação continua mais que muita e há para todos os gostos. Permitam-me aqui um parêntesis: o melhor concerto que fiz a solo na minha vida foi na Praça do Barqueiro há 10 anos (salvo erro). O público era do melhor que há e tive de voltar ao palco duas vezes. E depois estava rodeado de amigos e de gente boa. :)

Sou do tempo em que se viajava no Pirata Azul, no Independência, no Alizur Amarillo, no Pátria, no Lady of Man e no Madeirense. E, apesar de não ser grande marinheiro, a viagem no Lobo Marinho faz-se maravilhosamente e com todas as condições. E a ideia do que se vai encontrar no fim da viagem, faz com que cada vinda cá seja um prazer. Acreditem que, até com chuva e frio, gosto desta Terra. :)

Não vou negar que há nostalgias. As saudades que sinto da minha Avó (que todos os anos me trazia cheia de paciência), de ter de ir aos CTT telefonar, do verdadeiro "desligar" que havia quando para cá vínhamos, de tirar o relógio mal punha um pé em terra firme, das bebedeiras que se tomava sem grandes preocupações (porque trazer carro era um luxo), dos passeios de jerico e, acima de tudo, das noites divertidas com amigos, sem acesso a muita coisa a que, hoje em dia, esta malta tem acesso. E de comer biscoitos do Porto Santo no terraço da casa da minha Avó com o meu Amigo Bruno. :) Bons tempos!

Hoje, com os iPhones, iPads, PCs e restantes tecnologias, o Porto Santo fica mais perto de tudo. E mais parecido com tudo. É preciso haver mais esforço, disciplina e controlo da nossa parte para poder estar, verdadeiramente, em "modo Porto Santo". Mas tudo se faz. Haja vontade! E há. Tenho a certeza que, quem sabe (e quer) estar no Porto Santo, consegue. E volta... 

Não sei como alguém pode ligar ao que, há poucos dias, se disse numa telenovela. Houve alguém que, seguindo um guião brilhante (not!) se referiu ao Porto Santo como uma Ilha deserta que tinha praia e pouco mais, onde não se passa nada. Não sejam pequeninos, não digam asneiras. A grande vantagem de cá estar é simples: se quiserem que não se passe nada, há sítios para estar. Mas se quiserem curtir muito, também há! E a Ilha é suficientemente grande para que as duas realidades vivam em harmonia. Se quiserem pensar o contrário, estejam à vontade. Mas não sabem o que perdem. E isso quem vos garante sou eu!

Assim sendo, vou continuar a vir, a desfrutar e a gostar desta terra. E a tê-la também como minha. E vou continuar a sentir coisas boas quando cá venho. Quem me conhece sabe que, o que procuro na vida é, precisamente, coisas boas. Daí a profissão que escolhi, os poucos amigos que tenho e os sítios onde gosto de estar. Este é um deles. Agora já mais "velhinho" e menos afoito. Mas, até nisso, o Porto Santo me enche as medidas: mudou comigo, ao meu ritmo e sem impor nada. Ou fui eu que amadureci... Não interessa: é bom na mesma.

Nota - neste momento estou na Quinta do Serrado a escrever. Respira-se sossego e bem-estar. Daqui a pouco está na minha hora de ir à Praia (mais ou menos às 5 da tarde). Depois há o fim de tarde no terraço lá de casa, o jantar e as cervejinhas (e a conversa) mais logo. :)

É claro que a inocência e a simplicidade de outros tempos se perderam. Mas também quem, mais cedo ou mais tarde, não deixar cair essa inocência, corre o risco de viver pouco. Ou de viver iludido. E nem uma nem outra são saudáveis a longo prazo.

Perguntam-me vocês: podias viver sem ir ao Porto Santo? Claro que podia! Mas não,era, nem de perto nem de longe, a mesma coisa.

Beijos & Abraços,

MP


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Da Vontade de Ensinar e Dos Métodos

Amiguinhos,

A vontade de passar a outras pessoas o conhecimento musical que tenho já não é de hoje. Há algum tempo que gostava de ensinar (embora, honestamente, não goste muito desta palavra) o que sei e a minha maneira de tocar e cantar.

Acho que nunca se proporcionou. Ou porque não havia um espaço para isso, ou porque não havia tempo. Agora que essa possibilidade se coloca, é preciso pensar em método. E método é, para mim, essencial.

Participei há pouco tempo numa conversa sobre ensino e pedagogia. Ouvi mais do que falei porque sou leigo na coisa. Sobre este assunto penso o seguinte: para ensinar precisamos mesmo de ter em atenção quatro aspectos fundamentais. São eles: paciência, vontade, pedagogia e método. É fácil perceber a importância de cada um. E vou mais longe: quem conseguir reunir estas características tem tudo para ser um bom professor.

A paciência é essencial e basilar. Em cada aluno há uma pessoa diferente. Com capacidades diferentes. Com limitações diferentes. Nem todos temos o mesmo talento ou capacidade natural para aprender e executar um instrumento. E a capacidade de não perder a cabeça quando as coisas não entram à primeira, é essencial. Caso contrário, temos alunos frustrados, com medo e sem entusiasmo. Que depois ou desistem, ou se tornam músicos medíocres. Uma coisa é ser paciente. Outra é ser permissivo e iludir alguém que, pura e simplesmente, não tenha jeito para a coisa. A honestidade nestes casos é a melhor saída. Pode perder-se um mau músico e ganhar-se um bom médico.

Quem não tiver vontade de ensinar, não deve fazê-lo. O ensino como solução profissional de recurso produz professores amargos e pouco ambiciosos. Que, com o passar dos anos, se tornam cada vez mais irrascíveis, deprimidos e desmotivados. E muitas vezes estragam e desmotivam pessoas talentosas.

Ter noções de pedagogia e mesmo alguma "pedagogia natural" é muito importante. Porque a pedagogia permite-nos agir de acordo com as nuances de cada aluno. Sejam elas comportamentais ou mesmo sociais. É uma espécie de instinto que tem forçosamente de ser inerente a quem ensina.

Por mais que se saiba (e conheço gente que sabe mesmo muito), não basta começar a ensinar coisas de forma isolada e aleatória. Há técnicas que têm precedência umas sobre as outras. Há timings para ensinar cada parte. A construção de um método é, por isso, essencial. Senão podemos ter um aluno que sabe tocar o Garota de Ipanema mas não sabe a escala de Fá Maior! Não é porque seja burro. É porque, antes de aprender a música em questão, o aluno precisa de saber a escala que lhe permite tocá-la e improvisar sobre ela. 

Uma coisa de cada vez. Com timing e disciplina. A isto chama-se método. E método pode significar a diferença entre um músico preparado e um jeitoso. :)

Beijos & Abraços.

MP

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Da Saudade

Amiguinhos,

Poucas coisas nos fazem tanta falta como as pessoas. A Família, os Amigos, os Colegas. Acho que há uma dimensão humana muito grande quando chamamos Saudade a um sentimento de falta. Só os afectos (sejam eles quais forem) nos fazem sentir aquele "aperto" a que nos referimos quando sentimos falta de alguém.

É comum dizer que tenho saudades de andar de mota, de ir ao cinema ou de comer o bife da Portugália. Está bem. Faz falta. Mas não fico triste nem angustiado por causa disso. Nem canto um Fadinho triste por não comer o bife da Portugália (embora seja uma das melhores coisas do Mundo...)... Não é Saudade. É vontade.

Mas das pessoas... Das pessoas sinto Saudade. Porque para se sentir falta de alguém tem de haver motivo. E vamos partir do princípio que, com essas pessoas, as vivências, as palavras e os contactos, tiveram saldo positivo.

Por outro lado também me parece que ficámos, com o tempo, mais preguiçosos. Já não se embarca para Angola para ficar 1 ou 2 anos sem falar com quem deixámos para trás. Hoje em dia Amiguinhos, basta querer. Há montes de formas de falar ou comunicar com as pessoas de quem gostamos. E só não consegue quem não tenta. Não estou a ser mauzinho nem intransigente. Estou a ser realista, basta olhar à volta. A não ser que as pessoas não valham a pena. Aí não há saudades. Pode haver, no máximo, leviandade em palavras ditas e atitudes tomadas com as emoções ao rubro. Mas aí está tudo estragado. E a distância não traz saudade. Traz resolução e serenidade a curto/ médio prazo.

Existe uma forma de minorar as saudades. É claro que isto implica duas coisas: sentimentos constantes e vontade. Mais nada. Tenho amigos de quem sinto falta e a amizade e as boas recordações mantêm-se. Haja vontade para contactá-los através dos montes de meios que a tecnologia hoje nos possibilita. Se nos mantivermos em contacto, os sentimentos não adormecem. E não dói tanto. Se assim não for, tudo o resto soa a desculpa de mau pagador. Soa a atitude comodista, nos casos mais leves. E medrosa, nos mais graves.

E há remédio para os comodistas e para os medrosos: sigam o que realmente sentem. Vão ver que vos dói muito menos do que, à boa maneira tuga, aguentar saudades.

De qualquer forma, para quem ficar com dúvidas, fiquem sossegados: também sinto saudades e vou receber sempre de forma calorosa as pessoas de quem gosto. Sejam elas quem forem.

Lembrem-se: há uma grande diferença entre uma Saudade sufocante e uma Melancolia serena que até se pode levar bem. Tudo depende  da vontade e da pureza dos sentimentos. Sejam eles quais forem. :)

Beijos & Abraços,

MP